Homenagem
ao jornalista Villas Boas Corrêa
no bairro da Tijucas, no Rio, em 2 de dezembro de 1923, faleceu aos 93 anos, no dia 15 de
dezembro de 2016. Formou-se em Direito pela Faculdade Nacional de Direito, da antiga Universidade do Brasil, em 1947 e era o mais antigo jornalista político do Brasil.
Viúvo deixa dois filhos, Marcos Sá Corrêa e Marcelo
Sá Corrêa.
Iniciou suas atividades jornalísticas, sempre
na área política, em 27 de outubro de 1948, no jornal A
Notícia, também trabalhou no Diário de
Notícias, jornal O Dia, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo – onde passou 23
anos na sucursal do Rio de Janeiro.
Villas Boas foi também comentarista político da TV
Bandeirantes e da extinta TV Manchete. Um comentarista de estilo elegante,
sofisticado e profundo.
Ao longo de todos estes anos, ele acompanhou de
perto os principais fatos políticos do país, como a transferência da capital
para Brasília, o golpe de 1964, a ditadura militar, a anistia, as Diretas Já.
Um analista privilegiado de momentos marcantes da história do país.
Aos 85 anos, o analista
político se auto definiu como o “último sobrevivente da geração que cunhou o
modelo de reportagem política”.
Quando de sua participação no II Encontro de Comunicação Social,
defendeu a reformulação da “Hora do Brasil” com a adoção de critérios
jornalísticos na elaboração de seu noticiário; e revisão do modelo que
predomina em grande parte do país de subsídios à imprensa.
E, durante esta sua apresentação, Villas Boas, pode nos brindar com
diversas reflexões sobre a transição do fim da ditadura e das perspectivas da Comunicação
Social na Nova República.
Sobre
o AI5 e a relação do jornalista com Governo:
Pois veio o AI-5. O
bonde descarrilhou de uma vez, e dessa experiência eu retirei apenas uma regra
de comportamento pessoal, não pretendo impor a ninguém: que repórter político
não deve se meter com governo. Isto é uma norma absolutamente pessoal de
conduta.
As
perspectivas da Comunicação na Nova República:
A Nova República
começou a se relacionar com a imprensa muito bem. Nas duas entrevistas
exemplares que o presidente eleito Tancredo Neves concedeu à imprensa,
resgatando um método de comunicação que havia sido prostituído ao longo desses
vinte anos de arbítrio.
Esse começo foi muito
bom, mas infelizmente, o acidente do presidente Tancredo Neves tirou o quadro
da moldura. O nosso prezado confrade Antônio Brito teve a bondade de comunicar
ao País, no meio de uma das muitas entrevistas coletivas que andou concedendo,
que estava empenhado em estabelecer um novo estilo, um novo modelo de
comunicação social com no País. Deixou apenas de entrever que esse modelo devia
basear-se na credibilidade.
Sobre
a doença de Tancredo Neves:
Mas é evidente que esta
inacreditável novela da doença e da operação do presidente Tancredo Neves,
parece fluir da imaginação de um novelista, de uma Janete Clair, que tenha sido
incorporada por um “pai-de-santo” de porre! De repente de um Presidente da
República que, no dia da posse é operado, que tem uma biografia de setenta e
cinco anos de invejável saúde, e só agora se descobriu que ele, há trinta anos
fez uma operação de hérnia, quando então aproveitaram e cortaram o apêndice. E
quiseram cortar de novo, agora, o apêndice do Tancredo.
O
fim do novo estiolo de Comunicação
Social na Nova República:
Este episódio, que é
lamentável e grotesco, é risível e levou o estilo de comunicação da Nova
República “pro buraco! Porque hoje a gente não consegue saber se aquela “mentirada” que jorrou daqueles comunicados envolvendo o
pobre do Antônio Brito, que teve a sua credibilidade pessoal profundamente
arranhada, resultou apenas da insegurança daquela equipe de “veterinários” que
operou Tancredo Neves e que, por pouco, por muito pouco, não o mata, ou se
também pra isto contribuíram as inevitáveis pressões da família, dos políticos,
dos interesses políticos. O fato é que, um governo novo, que se declara
instalar-se sob a inspiração de um modelo novo, repetiu nesse incidente os
cacoetes mais lamentáveis. Quer dizer, a credibilidade do governo, que é
fundamental em qualquer projeto de comunicação social, saiu profundamente
abalada deste episódio.
Perspectivas
de um novo modelo de Comunicação Social:
Nós precisamos, a meu
ver, começar a montar um modelo, um estilo de comunicação do governo com o
povo. Um modelo que tenha as suas normas, as suas regras, e que venha a ganhar
estabilidade. De maneira que ele não seja como hoje: o reflexo inevitável da
personalidade, do temperamento dos chefes.
Em primeiro lugar o
Governo precisa aprender que ele tem de entrar nesta corrida da comunicação em
pé de igualdade com a empresa privada. Ele tem que produzir um bom produto,
para que este produto seja aproveitado pela imprensa, pelos meios de comunicação.
Já não é assim na imprensa escrita?
Sobre
a Voz do Brasil:
O Governo todo o dia
inunda a imprensa com aquele derrame de “releases”, de informações cujo destino
normal é a cesta. Muito pouco se aproveita. E a televisão não está obrigada a
transmitir um programa diário do governo. Por que só o rádio? Então, a
consequência disto é aquela chatice de baixíssima qualidade, e que deve custar
uma fortuna ao País. Eu sou um ouvinte habitual da “Voz do Brasil”, porque é
irradiada na hora em que estou indo para casa. Eu sou obrigado a ouvir porque
tenho uma certa curiosidade mórbida de ver até quanto aquilo pode ser ruim, com
as informações oficiais, num texto indigente naquele modelo de literatura
oficial. E, o pior é o noticiário do
Congresso, que é uma vergonha. É uma vergonha que o Congresso tenha uma equipe
imensa de redatores, que custem uma fortuna ao País. Aquilo é um estábulo de
jornalistas. Não há jornalista de Brasília que não coma nas baias do Congresso.
E produz aquela porcaria, aquele texto cretino, com entrevistas que são débeis
mentais.
Colocado num regime de
concorrência, que não seja de divulgação compulsória, isso muda, porque, se não
mudar ninguém transmite aquela porcaria.
E
de maneira brilhante, Villas Boas, encerrou a sua participação no I Painel de
Debates do II Encontro de Comunicação Social, onde desenvolveu o tema
“Relacionamento Governo – Imprensa:
Eu sei que o modelo de
cada comunicação estadual depende muito do governador. É o que sinto como
repórter político. Quer dizer, se o governador não tem o que dizer, não sabe
dizer as coisas, não tem capacidade de comunicar, não adianta escorá-lo com
todas as muletas do mundo que ele não vai dar o seu recado. Mas, o assessor de
imprensa não pode criar o governador, pelo menos não queira passar gato por
lebre. Governador ruim é governador ruim. Não há imprensa que dê jeito nele. Um
bom governador acaba aparecendo, até quando a imprensa não é tão ágil.
E
assim finalizou:
A Nova República deverá
nos permitir arejar um pouco este quadro. Até porque este modelo degradou ao
longo destes vinte anos. Está tão podre, tão rejeitado, que está sendo vomitado
pelo país. É inútil querer sustenta-lo por mais tempo. Devemos ter um pouco de
imaginação, de criatividade, para começar a repensar, reexaminar tudo isto.
Não vale a pena
ninguém, querer ficar, hoje, escorando o telhado que rui podre e já rui tarde!
Praticamente 30 dias
após o II Encontro de Secretários de Comunicação*, Tancredo Neves veio a
falecer – no dia 21 de abril de 1985. Assim, finalizou todos os sonhos de uma
nova Comunicação Social no Brasil.
(*) O
II Encontro de Secretários de Comunicação Social foi realizado na cidade de Foz
do Iguaçu, com a presença dos Secretários de Comunicação Social do Brasil, nos
dias 23 a 28 de março de 1985, contando com a participação dos principais
jornalistas da imprensa nacional.
Nenhum comentário:
Postar um comentário