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segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

HOMENAGEM AO JORNALISTA VILLAS BOAS CORREA

Homenagem ao jornalista Villas Boas Corrêa
 Luiz Antônio Villas-Boas Corrêa, nascido
no bairro da Tijucas, no Rio, em  2 de dezembro de 1923, faleceu aos 93 anos, no dia 15 de dezembro de 2016. Formou-se em Direito pela Faculdade Nacional de Direito, da antiga Universidade do Brasil, em 1947 e era o mais antigo jornalista político do Brasil.
Viúvo deixa dois filhos, Marcos Sá Corrêa e Marcelo Sá Corrêa.
Iniciou suas atividades jornalísticas, sempre na área política, em 27 de outubro de 1948, no jornal A Notícia, também trabalhou no Diário de Notícias, jornal O Dia, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo – onde passou 23 anos na sucursal do Rio de Janeiro.
Villas Boas foi também comentarista político da TV Bandeirantes e da extinta TV Manchete. Um comentarista de estilo elegante, sofisticado e profundo.
Ao longo de todos estes anos, ele acompanhou de perto os principais fatos políticos do país, como a transferência da capital para Brasília, o golpe de 1964, a ditadura militar, a anistia, as Diretas Já. Um analista privilegiado de momentos marcantes da história do país.
Aos 85 anos, o analista político se auto definiu como o “último sobrevivente da geração que cunhou o modelo de reportagem política”.
Quando de sua participação no II Encontro de Comunicação Social, defendeu a reformulação da “Hora do Brasil” com a adoção de critérios jornalísticos na elaboração de seu noticiário; e revisão do modelo que predomina em grande parte do país de subsídios à imprensa.
E, durante esta sua apresentação, Villas Boas, pode nos brindar com diversas reflexões sobre a transição do fim da ditadura e das perspectivas da Comunicação Social na Nova República.
Sobre o AI5 e a relação do jornalista com Governo:
Pois veio o AI-5. O bonde descarrilhou de uma vez, e dessa experiência eu retirei apenas uma regra de comportamento pessoal, não pretendo impor a ninguém: que repórter político não deve se meter com governo. Isto é uma norma absolutamente pessoal de conduta.

As perspectivas da Comunicação na Nova República:
A Nova República começou a se relacionar com a imprensa muito bem. Nas duas entrevistas exemplares que o presidente eleito Tancredo Neves concedeu à imprensa, resgatando um método de comunicação que havia sido prostituído ao longo desses vinte anos de arbítrio.
Esse começo foi muito bom, mas infelizmente, o acidente do presidente Tancredo Neves tirou o quadro da moldura. O nosso prezado confrade Antônio Brito teve a bondade de comunicar ao País, no meio de uma das muitas entrevistas coletivas que andou concedendo, que estava empenhado em estabelecer um novo estilo, um novo modelo de comunicação social com no País. Deixou apenas de entrever que esse modelo devia basear-se na credibilidade.

Sobre a doença de Tancredo Neves:
Mas é evidente que esta inacreditável novela da doença e da operação do presidente Tancredo Neves, parece fluir da imaginação de um novelista, de uma Janete Clair, que tenha sido incorporada por um “pai-de-santo” de porre! De repente de um Presidente da República que, no dia da posse é operado, que tem uma biografia de setenta e cinco anos de invejável saúde, e só agora se descobriu que ele, há trinta anos fez uma operação de hérnia, quando então aproveitaram e cortaram o apêndice. E quiseram cortar de novo, agora, o apêndice do Tancredo.

O fim  do novo estiolo de Comunicação Social na Nova República:
Este episódio, que é lamentável e grotesco, é risível e levou o estilo de comunicação da Nova República “pro buraco! Porque hoje a gente não consegue saber se aquela “mentirada”  que jorrou daqueles comunicados envolvendo o pobre do Antônio Brito, que teve a sua credibilidade pessoal profundamente arranhada, resultou apenas da insegurança daquela equipe de “veterinários” que operou Tancredo Neves e que, por pouco, por muito pouco, não o mata, ou se também pra isto contribuíram as inevitáveis pressões da família, dos políticos, dos interesses políticos. O fato é que, um governo novo, que se declara instalar-se sob a inspiração de um modelo novo, repetiu nesse incidente os cacoetes mais lamentáveis. Quer dizer, a credibilidade do governo, que é fundamental em qualquer projeto de comunicação social, saiu profundamente abalada deste episódio.

Perspectivas de um novo modelo de Comunicação Social:
Nós precisamos, a meu ver, começar a montar um modelo, um estilo de comunicação do governo com o povo. Um modelo que tenha as suas normas, as suas regras, e que venha a ganhar estabilidade. De maneira que ele não seja como hoje: o reflexo inevitável da personalidade, do temperamento dos chefes.
Em primeiro lugar o Governo precisa aprender que ele tem de entrar nesta corrida da comunicação em pé de igualdade com a empresa privada. Ele tem que produzir um bom produto, para que este produto seja aproveitado pela imprensa, pelos meios de comunicação. Já não é assim na imprensa escrita?

Sobre a Voz do Brasil:
O Governo todo o dia inunda a imprensa com aquele derrame de “releases”, de informações cujo destino normal é a cesta. Muito pouco se aproveita. E a televisão não está obrigada a transmitir um programa diário do governo. Por que só o rádio? Então, a consequência disto é aquela chatice de baixíssima qualidade, e que deve custar uma fortuna ao País. Eu sou um ouvinte habitual da “Voz do Brasil”, porque é irradiada na hora em que estou indo para casa. Eu sou obrigado a ouvir porque tenho uma certa curiosidade mórbida de ver até quanto aquilo pode ser ruim, com as informações oficiais, num texto indigente naquele modelo de literatura oficial. E,  o pior é o noticiário do Congresso, que é uma vergonha. É uma vergonha que o Congresso tenha uma equipe imensa de redatores, que custem uma fortuna ao País. Aquilo é um estábulo de jornalistas. Não há jornalista de Brasília que não coma nas baias do Congresso. E produz aquela porcaria, aquele texto cretino, com entrevistas que são débeis mentais.
Colocado num regime de concorrência, que não seja de divulgação compulsória, isso muda, porque, se não mudar ninguém transmite aquela porcaria.

E de maneira brilhante, Villas Boas, encerrou a sua participação no I Painel de Debates do II Encontro de Comunicação Social, onde desenvolveu o tema “Relacionamento Governo – Imprensa:
Eu sei que o modelo de cada comunicação estadual depende muito do governador. É o que sinto como repórter político. Quer dizer, se o governador não tem o que dizer, não sabe dizer as coisas, não tem capacidade de comunicar, não adianta escorá-lo com todas as muletas do mundo que ele não vai dar o seu recado. Mas, o assessor de imprensa não pode criar o governador, pelo menos não queira passar gato por lebre. Governador ruim é governador ruim. Não há imprensa que dê jeito nele. Um bom governador acaba aparecendo, até quando a imprensa não é tão ágil.

E assim finalizou:
A Nova República deverá nos permitir arejar um pouco este quadro. Até porque este modelo degradou ao longo destes vinte anos. Está tão podre, tão rejeitado, que está sendo vomitado pelo país. É inútil querer sustenta-lo por mais tempo. Devemos ter um pouco de imaginação, de criatividade, para começar a repensar, reexaminar tudo isto.
Não vale a pena ninguém, querer ficar, hoje, escorando o telhado que rui podre e já rui tarde!

Praticamente 30 dias após o II Encontro de Secretários de Comunicação*, Tancredo Neves veio a falecer – no dia 21 de abril de 1985. Assim, finalizou todos os sonhos de uma nova Comunicação Social no Brasil.

(*) O II Encontro de Secretários de Comunicação Social foi realizado na cidade de Foz do Iguaçu, com a presença dos Secretários de Comunicação Social do Brasil, nos dias 23 a 28 de março de 1985, contando com a participação dos principais jornalistas da imprensa nacional.


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