Quem sou eu - Nasci em São Paulo, e adotei Curitiba desde criança, pois adoro esta cidade.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O Milagre de Natal


Era uma vez, um menino! Sem sorriso, sem lágrimas, caminhando, cansado, faminto e triste.
Não sabia de seu passado e muito menos queria saber de um novo dia. 

O cansaço é maior e entrega-se à uma escada, larga, feita de mármore. Sentiu um pouco de frio, mas era bonita e imponente!

Parte do seu corpo ainda estava coberto com uma manta vermelha bordada com fios dourados... Também nem imaginava de onde tinha vindo.
Era uma loja luxuosa!  Tinha uma enorme porta, debaixo de uma
marquise, onde ficavam os enfeites natalinos com um porção 
de luzinhas coloridas.
O frio aumentou! Não há mais pessoas nas ruas...
Adormece num canto para proteger-se do vento da noite e 
das desesperanças!
Dorme ainda escutando a suavidade dos cantos de Natal 
e se deixa levar pelos sonhos, pois fazia muito tempo que não sonhava. 
Estava ali deitado, encolhido e surge um pequeno clarão, não assustador, mas levemente azulado, quando apareceu aquela figura de que ele não gostava, mas, naquele momento, estava lhe estendendo seus braços, carinhosamente, em sua direção: era o Papai Noel!
Ele foi se aproximando com um sorriso, não daquela forma que estava costumado a ver, mas um sorriso angelical, suave, brilhante, que lhe trazia uma paz e a tranquilidade que jamais havia sentido.

O menino quase parado, ficou aguardando.

Chegou até o garoto, deu-lhe boa noite, tomou-o nos braços e lhe disse que aquela noite seria muito diferente. Tão diferente que jamais esqueceria! Ele iria conhecer a verdadeira Noite de Natal e acordaria  com o Menino Jesus, talvez tão pobre quanto ele.
Adormeceu profundamente!
A noite vai passando... As estrelas e o encanto das luzes coloridas dão lugar ao brilho do sol. É dia!
O que era prata vira ouro!
O menino acorda meio assustado, escutando um vozerio que não sabe vir da onde.
- Lá debaixo? Pensa e gagueja sem entender o que está acontecendo.
Abre seus olhinhos, olha para todos os lados e uma surpresa:  se vê numa deitado numa caminha feita de capim, parecida com aquele “bercinho de palha” que ele havia visto num presépio de não sei aonde.
Ao seu lado, um bebê ou talvez um menino muito pequenininho. Ele não sabe se é real ou um boneco. Mas, um sorriso traz um brilho diferente em sua face.
Olha, novamente,  para  todos os lados e percebe que está no meio de um presépio, entre figuras de louça, grandes e maravilhosas. São belas como nunca tinha visto igual!
- Este presépio estava na parte de cima daquela marquise e que o menino não sabia de sua existência, pois na realidade nunca havia olhado para cima e jamais o havia reparado.
O garoto olha-se e se vê limpo, como se tivesse tomado banho naquele momento e também está vestido como uma roupa novinha, quentinha e igual àquelas que ele via nas vitrines daquelas grandes lojas.

Os raios de sol resplandeciam nos dourados da manta.
O brilho parece aumentar e o vozerio também.
O menino olha novamente à sua volta e nem acredita que ele está
em cima daquela marquise, lá no alto.
Lá de cima vê aquelas pessoas olhando para ele. Ele não sabe como subiu e nem como vai descer!
A quantidade de gente também aumentou! O vozerio também! E eles gesticulam e falam coisas que não dá para acreditar: uns falam do menino Jesus, do presépio e de um moleque que subiu ali que ninguém  sabe como;  outros, até acham que é um milagre; e outros, incrédulos, dizem de que se trata de uma propaganda, para chamar atenção daquela loja.
O gerente da loja, por ali apareceu, ficou assustado com a multidão e com o garoto lá em cima. Queria chamar a polícia. Por fim, resolveram chamar os bombeiros.
Um bombeiro chega, coloca uma grande escada e ao chegar ao menino, lhe pergunta como ele subiu.
O garoto balbucia. Suas faces limpas ficam rosadas e responde baixinho:
- O Papai Noel me trouxe até aqui...!
O bombeiro sorri como se entendesse daquele milagre, pega-o no colo e o traz para baixo.
Olha para os lados a procura, talvez, de uma pessoa que fosse responsável pelo menino,  afinal  ele estava bem vestido...
Um casal aproximou-se do garoto, afagou-o carinhosamente e disse ao soldado do fogo:
-  Pode deixar, nós vamos cuidar dele!
O bombeiro sentiu uma sensação estranha e teve a certeza de que o menino deveria ser entregue ao casal!
A mulher abraçou a criança:
- Vamos meu filho, esse é o seu Natal que jamais irá esquecer e ele será maravilhoso!
Saíram dali rindo e dando passos como se estivem dançando ao som de Noite Feliz!
Os olhos do menino brilhavam, seu coração palpitava de alegria. Olhou para trás, fitou o presépio, de onde tudo tinha começado e viu o Menino Jesus sorrindo um sorriso brilhante. Deu-lhe uma piscada!
Há meia quadra daquela escada de mármore, os três caminhando a felicidade do alvorecer de um novo dia, depararam com um velho gordo, vestido de vermelho, face rosada e rindo: - oh!...oh!...oh!... .
Era o Papai Noel que ele tinha visto no sonho. Sorriu-lhe e recebeu também o sorriso doce. Pela primeira vez chorou de alegria!
Papai Noel, afagou sua cabecinha e disse-lhe que aquela Noite de Natal foi diferente como diferente seriam todos os seus dias. Beijou a testa do menino e com um vozeirão bem forte gritou:
- Oh!...Oh!...Oh!...Um Feliz Natal para todos!

Eduardo Barrozo Prugner




segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

HOMENAGEM AO JORNALISTA VILLAS BOAS CORREA

Homenagem ao jornalista Villas Boas Corrêa
 Luiz Antônio Villas-Boas Corrêa, nascido
no bairro da Tijucas, no Rio, em  2 de dezembro de 1923, faleceu aos 93 anos, no dia 15 de dezembro de 2016. Formou-se em Direito pela Faculdade Nacional de Direito, da antiga Universidade do Brasil, em 1947 e era o mais antigo jornalista político do Brasil.
Viúvo deixa dois filhos, Marcos Sá Corrêa e Marcelo Sá Corrêa.
Iniciou suas atividades jornalísticas, sempre na área política, em 27 de outubro de 1948, no jornal A Notícia, também trabalhou no Diário de Notícias, jornal O Dia, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo – onde passou 23 anos na sucursal do Rio de Janeiro.
Villas Boas foi também comentarista político da TV Bandeirantes e da extinta TV Manchete. Um comentarista de estilo elegante, sofisticado e profundo.
Ao longo de todos estes anos, ele acompanhou de perto os principais fatos políticos do país, como a transferência da capital para Brasília, o golpe de 1964, a ditadura militar, a anistia, as Diretas Já. Um analista privilegiado de momentos marcantes da história do país.
Aos 85 anos, o analista político se auto definiu como o “último sobrevivente da geração que cunhou o modelo de reportagem política”.
Quando de sua participação no II Encontro de Comunicação Social, defendeu a reformulação da “Hora do Brasil” com a adoção de critérios jornalísticos na elaboração de seu noticiário; e revisão do modelo que predomina em grande parte do país de subsídios à imprensa.
E, durante esta sua apresentação, Villas Boas, pode nos brindar com diversas reflexões sobre a transição do fim da ditadura e das perspectivas da Comunicação Social na Nova República.
Sobre o AI5 e a relação do jornalista com Governo:
Pois veio o AI-5. O bonde descarrilhou de uma vez, e dessa experiência eu retirei apenas uma regra de comportamento pessoal, não pretendo impor a ninguém: que repórter político não deve se meter com governo. Isto é uma norma absolutamente pessoal de conduta.

As perspectivas da Comunicação na Nova República:
A Nova República começou a se relacionar com a imprensa muito bem. Nas duas entrevistas exemplares que o presidente eleito Tancredo Neves concedeu à imprensa, resgatando um método de comunicação que havia sido prostituído ao longo desses vinte anos de arbítrio.
Esse começo foi muito bom, mas infelizmente, o acidente do presidente Tancredo Neves tirou o quadro da moldura. O nosso prezado confrade Antônio Brito teve a bondade de comunicar ao País, no meio de uma das muitas entrevistas coletivas que andou concedendo, que estava empenhado em estabelecer um novo estilo, um novo modelo de comunicação social com no País. Deixou apenas de entrever que esse modelo devia basear-se na credibilidade.

Sobre a doença de Tancredo Neves:
Mas é evidente que esta inacreditável novela da doença e da operação do presidente Tancredo Neves, parece fluir da imaginação de um novelista, de uma Janete Clair, que tenha sido incorporada por um “pai-de-santo” de porre! De repente de um Presidente da República que, no dia da posse é operado, que tem uma biografia de setenta e cinco anos de invejável saúde, e só agora se descobriu que ele, há trinta anos fez uma operação de hérnia, quando então aproveitaram e cortaram o apêndice. E quiseram cortar de novo, agora, o apêndice do Tancredo.

O fim  do novo estiolo de Comunicação Social na Nova República:
Este episódio, que é lamentável e grotesco, é risível e levou o estilo de comunicação da Nova República “pro buraco! Porque hoje a gente não consegue saber se aquela “mentirada”  que jorrou daqueles comunicados envolvendo o pobre do Antônio Brito, que teve a sua credibilidade pessoal profundamente arranhada, resultou apenas da insegurança daquela equipe de “veterinários” que operou Tancredo Neves e que, por pouco, por muito pouco, não o mata, ou se também pra isto contribuíram as inevitáveis pressões da família, dos políticos, dos interesses políticos. O fato é que, um governo novo, que se declara instalar-se sob a inspiração de um modelo novo, repetiu nesse incidente os cacoetes mais lamentáveis. Quer dizer, a credibilidade do governo, que é fundamental em qualquer projeto de comunicação social, saiu profundamente abalada deste episódio.

Perspectivas de um novo modelo de Comunicação Social:
Nós precisamos, a meu ver, começar a montar um modelo, um estilo de comunicação do governo com o povo. Um modelo que tenha as suas normas, as suas regras, e que venha a ganhar estabilidade. De maneira que ele não seja como hoje: o reflexo inevitável da personalidade, do temperamento dos chefes.
Em primeiro lugar o Governo precisa aprender que ele tem de entrar nesta corrida da comunicação em pé de igualdade com a empresa privada. Ele tem que produzir um bom produto, para que este produto seja aproveitado pela imprensa, pelos meios de comunicação. Já não é assim na imprensa escrita?

Sobre a Voz do Brasil:
O Governo todo o dia inunda a imprensa com aquele derrame de “releases”, de informações cujo destino normal é a cesta. Muito pouco se aproveita. E a televisão não está obrigada a transmitir um programa diário do governo. Por que só o rádio? Então, a consequência disto é aquela chatice de baixíssima qualidade, e que deve custar uma fortuna ao País. Eu sou um ouvinte habitual da “Voz do Brasil”, porque é irradiada na hora em que estou indo para casa. Eu sou obrigado a ouvir porque tenho uma certa curiosidade mórbida de ver até quanto aquilo pode ser ruim, com as informações oficiais, num texto indigente naquele modelo de literatura oficial. E,  o pior é o noticiário do Congresso, que é uma vergonha. É uma vergonha que o Congresso tenha uma equipe imensa de redatores, que custem uma fortuna ao País. Aquilo é um estábulo de jornalistas. Não há jornalista de Brasília que não coma nas baias do Congresso. E produz aquela porcaria, aquele texto cretino, com entrevistas que são débeis mentais.
Colocado num regime de concorrência, que não seja de divulgação compulsória, isso muda, porque, se não mudar ninguém transmite aquela porcaria.

E de maneira brilhante, Villas Boas, encerrou a sua participação no I Painel de Debates do II Encontro de Comunicação Social, onde desenvolveu o tema “Relacionamento Governo – Imprensa:
Eu sei que o modelo de cada comunicação estadual depende muito do governador. É o que sinto como repórter político. Quer dizer, se o governador não tem o que dizer, não sabe dizer as coisas, não tem capacidade de comunicar, não adianta escorá-lo com todas as muletas do mundo que ele não vai dar o seu recado. Mas, o assessor de imprensa não pode criar o governador, pelo menos não queira passar gato por lebre. Governador ruim é governador ruim. Não há imprensa que dê jeito nele. Um bom governador acaba aparecendo, até quando a imprensa não é tão ágil.

E assim finalizou:
A Nova República deverá nos permitir arejar um pouco este quadro. Até porque este modelo degradou ao longo destes vinte anos. Está tão podre, tão rejeitado, que está sendo vomitado pelo país. É inútil querer sustenta-lo por mais tempo. Devemos ter um pouco de imaginação, de criatividade, para começar a repensar, reexaminar tudo isto.
Não vale a pena ninguém, querer ficar, hoje, escorando o telhado que rui podre e já rui tarde!

Praticamente 30 dias após o II Encontro de Secretários de Comunicação*, Tancredo Neves veio a falecer – no dia 21 de abril de 1985. Assim, finalizou todos os sonhos de uma nova Comunicação Social no Brasil.

(*) O II Encontro de Secretários de Comunicação Social foi realizado na cidade de Foz do Iguaçu, com a presença dos Secretários de Comunicação Social do Brasil, nos dias 23 a 28 de março de 1985, contando com a participação dos principais jornalistas da imprensa nacional.