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João Ciro Saraiva de Oliveira
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Ciro Saraiva, como era conhecido, começou cedo no jornalismo. Aos 15 anos já escrevia para o jornal O Estado. Sua paixão era o futebol e em Fortaleza, logo se tornou um radialista desportista atuando nas rádios Ceará Rádio Clube, Dragão do Mar e Uirapuru.
Alegre, comunicativo adorava o carnaval e por duas vezes foi Rei Momo, em Fortaleza. Aproveitava-se dessa sua alegoria para provocar os políticos da época, principalmente seus desafetos.
Como jornalista aproximou-se da política tendo exercido o cargo de Secretário de Estado de Comunicação Social nos governos de Manoel de Castro e Gonzaga da Mota e ainda participou no Governo de Tasso Jereissati.
Gostava da política, mas era um combatente aos desmandos e a exploração, pelos políticos, da seca nordestina.
Poeta e
articulista escreveu muito sobre as agruras do sertanejo e da miserabilidade provocada
pela seca.
Em 2011 lançou o
livro “Nos Tempos dos Coronéis” que relata fatos da política cearense durante o
Regime Militar e casos de 1960 a 1986. O
livro teve duas sequências, “Antes dos Coronéis” e “Depois dos Coronéis”. A
trilogia narrou fatos marcantes da história cearense nos últimos 55 anos.
A eleição de um
novo Presidente da República, e tudo levava a crer que seria Tancredo Neves,
abria a expectativa da liberdade de imprensa e portanto novas relações da
imprensa com os governos.
Os Tempos em que Ciro
Saraiva viveu de perto, na imprensa e na política, muitas vezes cercado pelas
paredes palacianas, fez com que idealizasse o 1º Encontro de Secretários de
Comunicação Social, em Fortaleza, em junho de 1984. Com a eleição de Tancredo
incentiva a realização do II Encontro, no Paraná. Assim se expressaria Ciro Saraiva na abertura do II Encontro de Secretários de Comunicação Social:
"Por
ocasião do nosso I Encontro realizado em julho do ano passado, em Fortaleza,
dizíamos que, apesar de sua relevância, o setor de Comunicação Social foi
sempre omitido do planejamento oficial, dando-lhe, paradoxalmente, contornos
de atividade marginal ou secundária na formulação das estratégias
governamentais.
Não caberia aqui examinar se esse
fenômeno se deve à antiga conceituação de que o Governo e Imprensa sempre
estiveram em posições antagônicas. Para muitos administradores – e isso ainda
hoje ocorre – os repórteres estão sempre contra eles. Recentemente, li uma
declaração de um Secretário de Estado norte-americano, de que os jornalistas
estão sempre procurando noticiar algo que vai estragar as coisas.
Sem pretensões ao pioneirismo, mas
consciente da importância da Comunicação Social, o governador Gonzaga Mota, do
meu Estado, preocupou-se em contribuir para resgatar essa situação. E ao lançar um programa específico para sua Secretaria, decidiu tratar a Comunicação Social
como um investimento de natureza e retornos sociais. Como estimulador da vontade
coletiva para a consecução dos grandes objetivos governamentais, como via de
mão dupla: informando as tendências e o comportamento do público. Também fornecendo
indicadores para os necessários realinhamentos, alterando Governo e Povo nas
posições de emissor e receptor.
O Encontro de fortaleza, realizado com a
participação de 17 Estados, serviu, sobretudo, para uma tomada de consciência
sobre alguns problemas que nos desafiam. Somos todos profissionais prestando
serviços, eventualmente, ao Governo.
A exata noção da circunstanciabilidade
dessa situação nos conduz a necessidade de fazermos o melhor, de contribuirmos, de
algum modo, para o aperfeiçoamento dessa difícil. atividade.
Da correta aplicação dos recursos
disponíveis à livre manifestação dos veículos e da necessidade de se dar às
campanhas publicitárias um cunho educativo, informativo e social;
A recomendação de acordos operacionais entre as Secretarias, sem esquecer o
problema do “release” e a delicada situação do jornalista que trabalha para o
Governo e para a iniciativa privada ao mesmo tempo - foram os temas abordados e
discutidos.
Não diríamos que foi detidamente examinado. Para sermos sinceros, os
temas propostos tiveram uma apreciação, diríamos epidérmica. O que, de nenhum
modo, invalida o esforço realizado, porque aquela era a primeira vez em que nos
reuníamos, diferentemente do que vem ocorrendo, sistematicamente com os Secretários
de outras áreas.
Estou convencido da necessidade de
aprofundarmos esse debate. Não há dúvida de que ele nos dará uma visão mais
ampla da realidade. Cada um tem aqui uma experiência pessoal a testemunhar e a
partir dela, todos poderão contribuir para a fixação de diretrizes.
Parece-me
construtivo saber como se comportam, por exemplo, meus companheiros do Paraná e
do Piauí, a respeito de um problema semelhante que enfrento no Ceará.
Este II Encontro é uma outra
oportunidade que temos para isso. E seria incorreto, de nossa parte, esquecer
que essa nova oportunidade se deve a clarividência do Secretário Dalcanale, apoiado,
naturalmente, no merecido prestígio que lhe dá o governador José Richa e no
reconhecimento que aqui também se pratica a comunicação social.
Se Fortaleza já deu resultados, Foz do
Iguaçu pode torná-los muito mais expressivos.
Mas creio que a própria
velocidade da comunicação e a importância que ela teve e terá no processo de
mudança que ora vive o País, exigirá de nós uma postura mais firme e um ritmo
mais trepidante.
Por isso, penso – e aqui fica lançada a ideia – a criação de um Fórum de
Secretários de Comunicação, com a participação de um determinado número de
Secretários, aqui escolhidos, para se reunirem, digamos semestral ou
trimestralmente, a exemplo do que já fazem titulares de outras pastas.
Seria um
órgão capaz de definir conceitos e estabelecer diretrizes a partir dos temas
aqui levantados. Submeto aos companheiros, essa proposta, que poderá servir
para o fortalecimento do setor, na verdade necessário ainda para assumir um papel
da maior importância no contexto dos governos. Pediria para isso, que fosse
constituída uma Comissão capaz de estudar a viabilidade da ideia, que, na verdade,
não está pronta nem acabada, mas apenas esboçada".
JOÃO CIRO SARAIVA DE
OLIVEIRA era natural de Quixadá, onde nasceu aos 23 de fevereiro de
1938, filho de Raimundo Cristino de Oliveira e de Amanda Saraiva de Oliveira. Atuou como radialista, jornalista e escritor. Faleceu em Fortaleza aos 78 anos de idade, no dia 27 de junho de 2015.