O cenário não
poderia ser outro, a Avenida Atlântica acompanhando as ondas daquele mar azul,
desmanchando-se em espumas brancas, molhando e deixando a areia branca tocar a
calçada, vestida de pequenas pedras, formando desenhos em preto e branco.
Do outro lado da
rua, uma muralha de prédios, formando fileiras e colunas de espigões, como
soldados lanceiros, em posição de sentido, observando o oceano que se perde num
horizonte sem fim.
A avenida,
entapetada de preto, deixa sobre o seu dorso, a rolagem de carros que se
engalfinham, vagarosamente, numa mesma direção.
A manhã se
espreguiçava ao calor do Sol e os raios pincelavam as águas azuladas, em um
suave dourado, que bailavam delicadamente à brisa matinal.
Gustavo
caminhava e observava tudo. Ninguém mais o percebia, como antes!
O Sol também caminhava
e à medida que ia se deslocando, o calor aumentava. Gu (assim era seu apelido)
fitava o mar que parecia convidá-lo a refrescar-se em suas águas. Mas ele
queria continuar a sua caminhada. Além disso, teria que atravessar multidões de guarda-sóis coloridos, que
se aglomeravam na estreita faixa de areia. Ao mesmo tempo, uma massa de
pessoas movendo-se nas calçadas, em todas as direções, como se estivessem sem
nenhum destino.
Gu, sentou em um
banco, embaixo de uma velha figueira, que ele a conhecia há tempos. Ali, ficou a
fitar tudo que estava acontecendo.
Ao mesmo tempo que se protegia do calor
intenso, deixava-se levar pelas suas lembranças.
Lembrou-se da
Avenida Atlântica, com seus calçadões coloridos, dividindo o mar dos novos
prédios que, celeremente, iam se erguendo naquele Balneário, antes um bairro da
cidade de Camboriú.
Haviam desenhado
um projeto, mas a força dos tijolos venceu a lógica e deram sombra à areia. O
bairro virou cidade e seu nome transpôs fronteiras, assim passou a se chamar Balneário de Camboriú.
Lembrou, também,
da tímida Barra Sul, das areias ainda ensolaradas ao final da tarde, e dos
sábados à noite transformados em deliciosas baladas.
Nas longas
férias de verão, cresceram ele, seus amigos e irmãos! As férias começavam no Natal
e se estendiam à uma Quarta-feira de Cinzas. Puderam ali viver e vivenciar as
delícias da juventude, fazendo amizades e sonhando com praias, mar e areia...
Um pequeno
prédio de 3 andares, na Avenida era a morada e o quartel general.
Amigos e amigas
vinham de todas as partes, Curitiba, Blumenau, Joinville, Porto Alegre. E os
encontros se repetiam todos os anos.
Eles foram
crescendo, o tempo foi passando, mudando vidas e sonhos. O Balneário foi
ficando distante ....
Passado muito
tempo, estava ele ali o Gustavo, tinha vindo de longe para mostrar
à sua esposa e filha, aonde ele havia vivido a felicidade da juventude.
Mas, aonde estava
ela? A felicidade, a graça, a alegria, os sorrisos...a juventude? Uma cidade-praia? O que mesmo queria mostrar?
Seus pensamentos,
sua angústia, suas dúvidas foram quebradas pela voz suave de sua filhinha:
- “Pai, vamos
embora...”
Poderia cair a
cortina, mas a verdade ficou em seu coração, aqueles momentos foram seus e
ninguém iria reviver suas aventuras e seu passado.