O grande desafio surgiu
quando, como lição de casa, tinha que escrever sobre os meus sonhos e o meu
projeto de vida.
Realmente comecei a
embarcar nas mais diversas formas de sonhos. Ora me locupletava com projetos de
vida baseados em pensamentos novelescos, ora tremia em imaginar que não tinha
imaginação para criar pelo menos um projeto de vida.
Alguma vez, com certeza,
você se deparou com uma situação dessas: você sabe que pode, mas não tem ideia de
como é este poder.
E a todo instante esta
proposta martelava a minha cabeça.
Senti-me como um jovem de segundo grau deparando com o maior problema de sua existência: o que vou
ser quando crescer?
Naquele momento queria
ser o bombeiro que, quando criança, sonhei em ser!
Pronto, aí estaria resolvido
o meu questionamento!
É claro que quando se
pensa, aprende.
A primeira lição começa a
desenhar-se nas lógicas da matemática da existência: para se fazer um projeto
é preciso sonhar...
Pronto! E agora?
Estava tratando da queda
de uma maçã para provar a lei da gravidade e me deparei com uma melancia despencando
na minha cabeça.
Sonhar...! Neste momento
uma música invade a minha mente. Alguma coisa de magia, sons gnósticos, sinos
e sinetes numa aura de paz e tranqüilidade.
Para dar asas aos sonhos
precisamos ter os princípios da entrega e do desprendimento.
Falar de sonhos, de
projeto de vida, tem que antes que conhecer a sua missão.
Esse é o segredo
inquestionável despregado de todas as premissas do que quero ser amanhã, ou
melhor, do que vou ser amanhã.
As empresas parecem ter
descoberto o valor e a importância da MISSÃO. Pode-se ver, em muitas
delas, aquele quadrinho de vidro, pendurado, normalmente na sala da diretoria, com letras garrafais: “A nossa missão...”.
Quanto mais dão
importância a esta frase mais endeusada ela é, mais resultados lhe parecem
favoráveis.
Da presunção dos grandes
sonhos, sentia que tinha a necessidade de mergulhar na humildade do meu próprio
ser para desvendar a minha missão.
Atiro-me às estrelas e
entrego-me ao encanto do adormecer.
Amanheço em plena ressaca
de uma noite mal dormida. Minha cabeça lateja, não de dor, mas pela busca da
chave que talvez vá abrir todas as portas.
Como será que São
Francisco de Assis sentiu a força de sua missão?
Sonhava em ser santo? Ou
talvez um religioso?
- Não acredito, pois acho
que pensar em ser santo deve dar tudo errado e sonhar em ser um religioso seria
muito pouco para o São Chico.
E se o seu sonho fosse encontrar
Deus através dos animais?
Não seria esta a sua
missão?
Os animais se aproximam
daquele homem equilibrado, portanto centrado, muito feliz e cheio de paz!
Ele, motivado pela sua
missão, respeitando suas próprias habilidades que são realimentadas pela sua
autoconfiança, na crença que lhe da força, Francisco desfruta do convívio com
os animais e encontra o seu Deus. E, sonha os seus sonhos na construção do seu
plano de vida.
Chaplin, o eterno
vagabundo, faz de seu personagem um alento aos sofrimentos íntimos do ser
humano. Aquela figura frágil, maltrapilha e humilhada no seu dia a dia, levava
uma mensagem tão forte que destruía os poderosos e fazia com que o povo
sentisse o esplendor mágico da lágrima e sorriso que os conduzia a momentos
sublimes da Felicidade. Charles Chaplin fez e ganhou dinheiro e em nenhum
instante prostituiu a sua missão.
Absorto nas reflexões vou
dando asas à imaginação, e a criatividade vai garimpando caminhos diferentes do
passado para criar o futuro.
Percebi que cada
momento foi talhado de forma distinta e que nos tempos de prosperidade a motivação
era mais inovadora.
A missão tem que ser
direta, firme, curta e de fácil entendimento. Nela reside a os fundamentos da
vida, ou melhor, do ser. Não é criada. É descoberta!
Falar da missão é
dialogar com o espírito criador, onde o tempo é inexistente do principio ao
fim.
Caí no existencialismo
profundo.
Quando acordei, me vi num banco de um grande parque. Pessoas corriam, andavam, conversavam e
pedalavam suas bicicletas.
O gramado verde
misturava-se com árvores e nesse bucólico quadro, um lago prateado espelhava o
mundo ao seu redor. Eram prédios, flores, árvores, gente e pássaros que
mareavam aos embalos de pequenas ondas provocadas pela brisa do prenúncio do
anoitecer.
Curto esse momento!
Meus pensamentos
acompanham uma pipa que quer galgar os céus, mas está ligada ao infante da
terra. Vôo com ela.
Interessante a força do
pensamento, pois estou sentindo a brisa tocar o meu rosto e o ar sussurrar em
meus ouvidos. Estou voando!
A tarde se despede e o
lago se veste do avermelhado pôr do sol empavesado de tiaras douradas.
Meu olhar se fixa no
turbilhão de cores encarnadas e meu cérebro ferve à sinfônica do entardecer.
Vou balbuciando algumas
palavras sem nexo.... E dou um grito:
- eu provoco as mudanças nas
histórias das pessoas pelo relacionamento interpessoal, transmitido pelas
palavras.
É isso, através desta
minha habilidade, eu me relaciono com pessoas e nesses encontros acontecem as
mudanças na vida de cada uma delas e na minha também.
Vou fitando o lago, que
vai escurecendo e as águas tranquilas vão deixando manchar-se pelas luzes da cidade.
Tomo o meu caminho e
misturo-me com as pessoas que correm, andam, conversam e pedalam naquele
parque....
Aos quase setenta e dois
anos retomo a minha missão para sonhar os sonhos de novos projetos de vida.
Assim o projeto começa a ser
desenhado com palavras, cujo título também poderá ser inspirado em sonhos, ou
talvez num blog ou mesmo em páginas de um livro.
Eduardo
Prugner