O Contador de Histórias
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Vamos saindo, de fininho, daqui, pois lá está o vindo o contador de
histórias...
E
sem perceber, no seu sorriso, caminha na sala, cheia de pessoas, todas cuidando
de seus afazeres.
Já
acostumado, mas tendo muita percepção do que ali acontecia, continuou no seu
canto, olhando absorto o tempo passar. Pois assim lhe era todos os seus dias, pois
todos tinham a sua vida a cuidar.
Sorriu
como sempre sorria.
A
semana passou, como todos os dias passaram e de poucas conversas de cada dia,
ali ou lá, era mais um lugar, que também um dia passaria.
Lembrou-se
dos dias de trabalho, quando senhor de si, falava aos seus ouvintes, alguns
ávidos por querer escutá-lo, outros obrigatoriamente tinham que fazê-lo.
Mas
também isso, não chegava a importar mais, porque de que valeram as suas
andanças por tantos aprendizados, por tantos serviços prestados, e se
deliciando no orgulho de ser o que era.
Agora
que serviço, que palavras, ninguém para ele falar.
Mas,
a realidade é que tudo mudou, o celular já não é mais um instrumento de
comunicação, hoje faz de tudo: é TV, ordenador numa casa, liga e deliga o
carro, paga conta, recebe dinheiro, compra, vende, é agenda, tira fotos, filma
e por aí vai, e até serve para se comunicar.
Carros
sem motoristas, tvs que parecem cinema – ali sim é que contam histórias.
Algumas até de arrepiar. Férias em Marte ou na Lua...
E
a tal da impressora 3D, faz tudo. Tudo? Sim desde um botão até um iate. E as
indústrias que se cuidem, pois logo, cada família terá uma em casa. Roupa,
panela, troca de carro, e utensílios, isso sem falar que até comida vai fazer.
Hi!
Já está de novo o contador, contando suas histórias...
Sorriu,
afinal é para ele mesmo!
E,
assim se perdeu no silêncio do dia, recordando, em histórias, o seu passado, ou
talvez pedaços da sua vida, que vai se desabotoando, mostrando um corpo com
sinais de fadiga, desgastado pelas horas de tantos tempos.
Mas
sorriu, porque o sorriso fala da sua vida, dos seus anos, das suas alegrias e de
ter a vida, mesmo falando sem voz e ouvindo a quietude de não ter ninguém para
lhe conversar.
Outro
dia, sem ao menos perceber, procurava conversar, mas, bendito defeito e uma
história começou a contar. Não demorou muito e o ouvinte, educadamente desculpou-se
e disse: - preciso ir ter com outras pessoas.
Sorriu
novamente, no entendimento que já sabia, e continuou nos seus pensamentos, agora,
num futuro próximo, pois a verdade é que os tinha, mas poucos.
Assim
se foram os dias, se foram alguns anos e o contador de história, aos poucos foi
se calando. Para cada contador de histórias há de ter pelo menos um ouvinte. E
não os tinha mais...
Um
dia, Jesus lhe apareceu, e disse:
-
Vem comigo, que eu quero escutar as suas histórias.
E
lá se foi o contador de histórias, sorrindo, nos braços de Jesus.
EPrugner