Uma história de férias
O sol se espreguiçava por trás da montanha,
lançando seus raios amarelados para o céu que se azulava.
Assim mais uma vez, estava iniciando o espetáculo
da aurora!
Os passarinhos se alvoroçavam entre as
árvores, entoando melodias naturais ao acordar de um novo dia.
As árvores paralisadas, não mexiam uma só de
suas folhas, para não sentir o arrepio do frio.
Perfiladas, pareciam soldados a querer proteger os verdes campos.
No entanto a brisa fria corria pelos gramados
fazendo com que uma névoa delicadamente sobrevoasse os campos, que ainda
adormeciam preguiçosamente.
Não demorou muito, o Sol, dominante, senhor
de si, se fez presente, lançando seus raios dourados, que trespassavam por entre galhos e folhagens, expulsando
a bruma e deixando as cores do inverno sobressaírem-se.
Podia-se sentir o aroma do café pairando no
ar, misturado ao cheiro da madeira em brasa, vinda das fumaças do fogão a lenha.
Um leve calor abrande o friozinho. É mais um
dia típico do sertão brasileiro, com o gosto gostoso de férias.
As
Férias
Pedrinho foi até a janela, sonolento, pois acabara de acordar e ao ver aquele cenário, o sol, os campos que se espalhavam até o horizonte, deixou-se levar por mil pensamentos....
Era mais um dia de férias no sítio de seu avô, e tinha de aproveitá-lo da melhor forma possível.
No café, se cérebro maquinava e já desfiava suas pretensões.
- Mãeeeeeeee! Me dá o café logo, que quero ir
jogar bola com o Zezinho, gritou eufórico o menino, complementando e depois vou
até o riacho nadar um pouco.
Com certeza a mãe de Pedrinho não iria deixar
as coisas correrem rápido demais. Primeiro quis lembrar-se de quem era o
Zezinho, e depois faria uma porção de recomendações necessárias, como arrumar a
cama e o quarto, escovar os dentes, etc. e finalizou:
- Pera
lá! No riacho não vai não, a água está fria e não quero você com dor de
garganta.
- E
quem é mesmo o Zezinho, perguntou, distraidamente, a mãe.
Pedrinho, soltou aquela abafada bufada, que
quase o fez perder suas diversões:
- Mãe, Zé é o filho do Bento, o caseiro e
amigo do vô. Tô indo arrumar a cama e quarto...Depois vou...tomar cuidado!
O garoto tomou o café, e acabou se deliciando
com um bolo de fubá. Quando deu por si, saiu apressado, para o quarto, arrumou a cama, deu uma ajeitada
no quarto, foi se arrumando, botando calção, chuteiras e “vapt-vupt”, já na
porta, saindo e desabalada carreira.
Se não fosse sua mãe, já estaria chutando a
bola:
- Vá escovar os dentes e pentear seu cabelo. Não
se esqueça de lavar o rosto. Foi dessa maneira, que o Pedrinho, viu que sua mãe
estava atrasando as suas brincadeiras.
Pronto! E saiu numa pernada só!
Assim foi passando as horas. Uma rápida
parada para o almoço, engolindo tão ligeiro que se perguntássemos o que havia
comido, com certeza não saberia responder.
Lá estava ele, de novo, jogando bola,
correndo, subindo em árvores para pegar uma fruta. Essa delícia de comer uma mexerica
na árvore, é muito mais gostoso. E,
ainda tinha tempo para correr atrás das galinhas. As gargalhadas ecoavam pelos
campos e a alegria contaminava toda a paisagem do sítio.
Assim passou o dia, entre subidas de árvores,
chupando mimosa, jogando bola e de vez em quando, indo até a cozinha para “roubar”
uma fatia de bolo de fubá.
Uma leve brisa começou e convidou Pedrinho,
já cansado pelas tantas atividades, a descansar embaixo de uma frondosa
figueira.
Ficou olhando o céu pintado de azul, servia de fundo de palco para o balé das aves, as vezes sozinhas, outras vezes em
bandos que davam todo o ar da graça daquele momento.
A brisa aumentou os sopros de vento fazendo
movimentar as folhas das árvores.
Pedrinho foi encostando a cabeça num tronco de uma
raiz e deixou-se estirar sobre a relva.
Olhava absorto para o azul celeste do céu,
agora rabiscado por nichos brancos transformando-os nos mais imaginativos
desenhos: ora pequenos carneiros, ora cavalos alados que saltitavam os maços de
algodão branco.
O vento aumentava, mas o menino estava
embalado na sua criatividade.
As nuvens já disputavam com o sol o espaço
celestial, e se desenhavam em figuras maiores e mais agitadas. O branco foi
dando lugar aos tons cinza.
Não foi difícil construir um castelo de nuvens,
com altas torres... e o garoto continuava dando asas ao imaginário: dragões
viravam soldados, pipas, fadas, carros e carroças...!
Os raios de sol pintavam as nuvens brancas que
contrastava com o anil, e dava contorno dourado as nuvens acinzentada.
O tempo estava mudando!
Esse turbilhão espacial criava um cenário de
cores imaginativas.
Pedrinho estava mergulhado na sua inspiração
e criava a esses movimentos, uma estória.
Vibrava! E, como um maestro, regia as suas
concepções.
Ele tomou das nuvens rosa, brancas e douradas
e foi desenhando uma princesa. Fantasiou
delicadamente o seu rosto. Fez surgir-lhe sobre a cabeça uma coroa formada
pelos raios de sol, cujos reflexos deram a existência de esvoaçantes cabelos
dourados.
O vento aumentava e sua criação também e num
repente foi quebrada pelo chamar de sua
mãe:
- Pedrinho! Pedrinho! Venha imediatamente
para a casa. O céu está escurecendo e vamos ter um temporal! Corra!
O menino correu para casa, sob alguns pingos
de chuva que já começavam a cair. Foi direto ao seu quarto. Deitou-se próximo à
janela, numa grande e fofa almofada e novamente se entregou às suas criações e
aventuras imaginárias. Fitava, admirado aquele céu escuro, tempestuoso.
As nuvens agora, mais agitadas, continuavam suas
danças imaginativas naquele céu cinza e branco.
Pedrinho voltou à sua imaginação... e foi
desenhando sua estória.
Construindo uma estória de fadas
O céu escurecia cada vez mais e o castelo ia
sumindo no movimento incessante das nuvens. Pedrinho sabia que a sua princesa já havia entrado no castelo.
O menino desenhava nas nuvens cinzentas adornadas
pelos raios dourados do sol, os Cavaleiros do Sol. Eram destemidos, armados de
lanças e de escudos na cor do ouro, galopavam em cavalos brancos, rapidamente,
em direção ao sol levantando uma poeira de chuvas que respingava na janela.
Pedrinho se deliciava. A chuva aumentava e a
tempestade formava nuvens escuras. Ouvia-se o ribombar de trovões.
Pedrinho cria Os templários, cavaleiros que
montavam em cavalos negros com olhos vermelhos e quando trotavam, as ferraduras
de prata rasgavam as nuvens provocando explosões de relâmpagos e estrondos
ensurdecedores.
Os Cavaleiros do Céu, montados nos seus cavalos
brancos com grandes manchas cinzas montavam
guarda à porta do sol.
Os cavaleiros Templários, com seus negros
cavalos avançam ferozmente contra os Cavaleiros do Céu.
As nuvens brancas, cinzentas e escuras se
misturavam num movimento alucinante.
E, quase como um delírio, o menino continua a
sua estória...
Ao se encontrarem, olham-se com ódio. Os seus
cavalos eriçam seus pelos, bufam ferozmente e suas patas, com ferraduras de
prata, rasgam as nuvens, iluminando o céu com rajadas de relâmpagos.
Os destemidos cavaleiros desembainham as
espadas e uma luta desembestada é iniciada. A luta é mortal e as espadas cortam o
céu. As armaduras se chocam provocando
raios que caem ao longe, rasgando o ar.
Os cavaleiros do sol são mortalmente feridos
com as espadas dos Templários e tombam nas negras nuvens desencantando em
grossas gotas d’água que deságua sobre a terra, já molhada, numa chuva torrencial.
Um raio corta o ceú, assustando Pedrinho.
Pedrinho adormece sob suas imaginações!
Talvez tenha dado às suas aventuras aos seus sonhos...
Mas, aí é outra história!
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