Quem sou eu - Nasci em São Paulo, e adotei Curitiba desde criança, pois adoro esta cidade.

quarta-feira, 4 de outubro de 2017

De Volta ao Passado



O cenário não poderia ser outro, a Avenida Atlântica acompanhando as ondas daquele mar azul, desmanchando-se em espumas brancas, molhando e deixando a areia branca tocar a calçada, vestida de pequenas pedras, formando desenhos em preto e branco.
Do outro lado da rua, uma muralha de prédios, formando fileiras e colunas de espigões, como soldados lanceiros, em posição de sentido, observando o oceano que se perde num horizonte sem fim.
A avenida, entapetada de preto, deixa sobre o seu dorso, a rolagem de carros que se engalfinham, vagarosamente, numa mesma direção.

A manhã se espreguiçava ao calor do Sol e os raios pincelavam as águas azuladas, em um suave dourado, que bailavam delicadamente à brisa matinal.  

Gustavo caminhava e observava tudo. Ninguém mais o percebia, como antes!

O Sol também caminhava e à medida que ia se deslocando, o calor aumentava. Gu (assim era seu apelido) fitava o mar que parecia convidá-lo a refrescar-se em suas águas. Mas ele queria continuar a sua caminhada. Além disso, teria que atravessar multidões de guarda-sóis coloridos, que se aglomeravam na estreita faixa de areia. Ao mesmo tempo, uma massa de pessoas movendo-se nas calçadas, em todas as direções, como se estivessem sem nenhum destino. 

Gu, sentou em um banco, embaixo de uma velha figueira, que ele a conhecia há tempos. Ali, ficou a fitar tudo que estava acontecendo. 
Ao mesmo tempo que se protegia do calor intenso, deixava-se levar pelas suas lembranças.

Lembrou-se da Avenida Atlântica, com seus calçadões coloridos, dividindo o mar dos novos prédios que, celeremente, iam se erguendo naquele Balneário, antes um bairro da cidade de Camboriú.
Haviam desenhado um projeto, mas a força dos tijolos venceu a lógica e deram sombra à areia. O bairro virou cidade e seu nome transpôs fronteiras, assim passou a se chamar Balneário de Camboriú.

Lembrou, também, da tímida Barra Sul, das areias ainda ensolaradas ao final da tarde, e dos sábados à noite transformados em deliciosas baladas.

Nas longas férias de verão, cresceram ele, seus amigos e irmãos! As férias começavam no Natal e se estendiam à uma Quarta-feira de Cinzas. Puderam ali viver e vivenciar as delícias da juventude, fazendo amizades e sonhando com praias, mar e areia...

Um pequeno prédio de 3 andares, na Avenida era a morada e o quartel general.
Amigos e amigas vinham de todas as partes, Curitiba, Blumenau, Joinville, Porto Alegre. E os encontros se repetiam todos os anos.

Eles foram crescendo, o tempo foi passando, mudando vidas e sonhos. O Balneário foi ficando distante ....

Passado muito tempo, estava ele ali o Gustavo, tinha vindo de longe para mostrar à sua esposa e filha, aonde ele havia vivido a felicidade da juventude.

Mas, aonde estava ela? A felicidade, a graça, a alegria, os sorrisos...a juventude? Uma cidade-praia? O que mesmo queria mostrar?

Seus pensamentos, sua angústia, suas dúvidas foram quebradas pela voz suave de sua filhinha:
- “Pai, vamos embora...”

Poderia cair a cortina, mas a verdade ficou em seu coração, aqueles momentos foram seus e ninguém iria reviver suas aventuras e seu passado.

Ficaram as mais doces lembranças...só para ele. 

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