A
notícia veio como uma bomba! Já tínhamos nos acostumado com aquele lugar. Tudo
parecia ter-se encaixado como se ali haviam nascido. E agora aquele aviso,
frio, indolente e o pior, nas entrelinhas o prazo era quase impossível de
cumprir.
O contrato estava encerrado.
A
noite foi longa e olhos não conseguiam sequer fechar.
Enfim
veio a manhã! Até o sol estava com preguiça, e ele foi se alongando
vagarosamente, descobrindo-se das nuvens, para então irradiar o seu brilho.
Aos
poucos fui caminhando por cada canto da casa, olhava, refletia, contava
histórias de cada fato que ali teria acontecido. Cada lugar parecia guardar um
conto, uma lembrança! É bem verdade que não fazia tanto tempo assim, mas já
tinham raízes.
Sem
perder muitos minutos no café, fui à internet, buscar o consolo, ou melhor, um
novo lugar, um novo ninho.
Sem
perceber, não pude conter uma boa risada.
Outrora
folheava os jornais para achar onde morar. Eram página por página, anúncio por
anúncio, e muito deles tão pequenos que me valia de uma lupa.
Agora,
bastava colocar algumas informações, a meu gosto, e pronto, um rosário de
moradias, com fotos, medidas, valores, mapa de localização...Tudo isso num
abrir e fechar dos olhos.
Assim,
depois de alguns dias, já estava desenhando novos planos, imaginando aonde
iriam os móveis, etc.
Sabia
que não seria igual a que eu estava. Tudo havia mudado!
Veio
o dia. Acordei antes do sol. Empacotando o que tinha que ser empacotado. O
Caminhão chegou. Começou o corre-corre...
......................
Amanheceu.
A chuva se fazia presente e batia suavemente na janela e deixava-se escorrer no
peitoril. Aquele som era uma sinfonia que relaxava e não deixava sair da cama.
Mesmo
com chuva fui percorrer algumas ruas em volta. Não havia muitas pessoas nas
vias, mas a impressão de que não tinham face. Eram como autômatos andando de um
lado para outro.
Afinal
quem eram?
Pude
perceber que ali não havia prédios, eram casas, alguns sobrados, que se
misturavam entre comércio e residências. A maioria com pintura vencida,
desbotada. Não pareciam bonitas e muito menos atraentes.
Talvez
a chuva é que dava toda essa impressão.
Retornei
logo para casa. Tranquei-me no quarto como se precisasse esconder-me.
Levei
mais alguns dias para novamente, dar uma volta no bairro.
Já
não chovia e confesso que as pinturas continuavam toscas.
-
Mas que mau gosto!
Precisei
de pão e fui a padaria. Fui bem recepcionada, a pessoa que me atendeu perguntou
se era nova no bairro. Percebi que tinha uma face simpática, olhos negros, um nariz
que se sobrepunha um sorriso.
Respondi
monossilabicamente. O sorriso se fechou e a face simplesmente desapareceu. Fui
rapidamente para casa!
Ao
abrir o pacote do pão, um pão doce enfeitava os outros pães. Não havia feito tal pedido. Vou devolvê-lo...
“Caiu
a ficha”!
Pensei
em voltar lá. Fiquei na dúvida...
Pela
manhã, não me contive e fui às compras. Entrei na panificadora e fui até o
rapaz que havia me atendido e lhe dei um “bom dia” sorridente. Sua face voltou
a ter os traços simpáticos do dia anterior e o sorriso estampado respondeu-me
ao meu cumprimento. De imediato agradeci o mimo que havia recebido.
Ao
sair da padaria, achei que as casas haviam sido repintadas. Já não me pareciam
mais rústicas. As pessoas me cumprimentavam e eu as respondia, ora com um
sorriso ora com um aceno.
Já não eram mais robôs, tinham rostos. Algumas até se
dirigiam a mim para “puxar” conversa.
Descobri
na simplicidade a grandeza daquele bairro. O comércio, bem servido, diferente
de que até então estava acostumado.
Aos
poucos fui mudando...
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