O cenário era a avenida principal que dava ao centro executivo político de Curitiba. A multidão se aglomerava ao longo daquela via, como uma serpente movimentando-se lentamente sobre o chão árido, negro, áspero do asfalto, símbolo do progresso e porque não da derrocada dos naturalistas que por certo, apreciariam as pedras irregulares, excelente filtro das águas de chuva.
Povoação como aquela, há muito não se via, ou melhor, nunca se tinha visto, a não ser quando do Congresso Eucarístico Nacional, em 1960.
Crianças se alvoroçavam sem entender o motivo daquela concentração. Presas às mãos de suas mães, que ali estavam com o mesmo entendimento de seus filhos.
Manifestações semelhantes aconteceram em outros centros urbanos. Eram episódios que determinavam a posição dos brasileiros, principalmente da classe média, em relação ao “comunismo vermelho”, movimentos liderados pela Rússia e Cuba, assolava a Nação e aos seus cidadãos, que temiam a invasão em suas terras e até mesmo de perderem seus patrimônios residenciais.
No dia 22 de outubro (1962), o presidente John Kennedy denunciou, em pronunciamento pela televisão, a existência dos mísseis russos na América Central. "Essas rampas não devem ter outro objetivo que o ataque nuclear contra o mundo ocidental", declarou.
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Neste momento, a Rádio 100 colocava a música dos Incríveis e o locutor anunciava com grande estilo e colocava no ar: - “Era um Garoto que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stone”, e em seguida alardeava: - “em primeiro lugar: “As curvas da estrada de Santos”, de Roberto Carlos”.
As músicas tinham o ritmo certo e deliciavam os ouvidos. Até hoje, exercem a magia de anestesiar os conflitos, causando prazeres indefinidos e nos levando a movimentos dançantes e saudosos, como se ainda fossemos os jovens de outrora.
A jovem guarda, ginasiana por excelência, curtia as poesias simples e românticas das notas musicais, entre namoricos bem comportados, nos portões da rua, onde a troca de beijinhos era uma permissividade consentida.
Os homens pareciam soldados marchando
para as batalhas de Dom Quixote, em meios a edifícios, monstros de concreto,
cujas sombras pareciam garras querendo aterrorizar os pobres lanceiros, que
buscavam a todo custo atacar os dragões ateus, ferozes, famintos e hediondos. Assim
eles imaginavam os inimigos comunistas.
Ao mesmo tempo a Igreja Católica
alertava que os “demônios vermelhos” estavam prontos para destruírem a
sociedade cristianizada e para devorarem os seus nascituros.
Todos, da pacata e crédula sociedade curitibana e de seus arredores, atenderam aos chamados dos padres e dos políticos, plantonistas de guarda da democracia brasileira, que usando da imprensa, intimidavam a que participassem da “marcha da família com Deus pela liberdade”.
Manifestações semelhantes aconteceram em outros centros urbanos. Eram episódios que determinavam a posição dos brasileiros, principalmente da classe média, em relação ao “comunismo vermelho”, movimentos liderados pela Rússia e Cuba, assolava a Nação e aos seus cidadãos, que temiam a invasão em suas terras e até mesmo de perderem seus patrimônios residenciais.
Esses movimentos acudiam aos contrários à ordem pública, provocados pelas organizações denominadas de esquerda, responsáveis pela introdução do culto ateu e materialista nos corações dos cristãos brasileiros. As figuras do chamado novo sindicalismo e da reforma agrária, com apoio do Presidente Jango, assustavam a população.
A propaganda maciça americana, somado as injunções comunistas e os atos de um governo que queria implantar o socialismo de esquerda no Brasil formalizou o chamamento do Exército para a defesa do povo da Mãe Pátria. Ação esta apoiada por quase todas as instituições brasileiras, incluindo OAB, Igreja, Partidos Políticos, Associações de Classes tanto as empresariais como a de empregados.
Este era o sinal dos tempos, além de um medo crescente de uma eclosão nuclear, produzida pela guerra fria entre as duas nações dominantes no planeta Terra (Estados Unidos e Rússia).
No dia 22 de outubro (1962), o presidente John Kennedy denunciou, em pronunciamento pela televisão, a existência dos mísseis russos na América Central. "Essas rampas não devem ter outro objetivo que o ataque nuclear contra o mundo ocidental", declarou.
Para ele, a transformação de
Cuba em base estratégica, com a instalação de armas de destruição em massa,
representava uma ameaça à paz e à segurança do continente americano. "Nem
os Estados Unidos nem a comunidade internacional irão se iludir e aceitar esta
ameaça", advertiu.
Ainda no mesmo dia, os EUA
decretaram um bloqueio naval contra a ilha de Fidel Castro e deram um ultimato
à URSS. Kennedy exigiu do chefe de Estado Nikita Khruchov o imediato desmonte
das rampas, a retirada dos mísseis e a renúncia à instalação de novas armas
ofensivas em Cuba. Washington advertiu também que, caso o bloqueio fracassasse,
a ilha seria invadida.
ONU contorna ameaça de guerra
Qualquer transgressão do
bloqueio por navios soviéticos poderia desencadear a guerra entre as duas
potências atômicas. A Organização das Nações Unidas ofereceu-se para mediar. A
crise foi administrada e acabou sendo contornada. No dia 28 de outubro, Khruchov
cedeu à pressão norte-americana, retirando os mísseis e admitindo uma inspeção
da ONU. (dos jornais da época)
Neste momento, a Rádio 100 colocava a música dos Incríveis e o locutor anunciava com grande estilo e colocava no ar: - “Era um Garoto que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stone”, e em seguida alardeava: - “em primeiro lugar: “As curvas da estrada de Santos”, de Roberto Carlos”.
As músicas tinham o ritmo certo e deliciavam os ouvidos. Até hoje, exercem a magia de anestesiar os conflitos, causando prazeres indefinidos e nos levando a movimentos dançantes e saudosos, como se ainda fossemos os jovens de outrora.
Os embalos aconteciam no sábado....
Os “Beatles” faziam o pano de fundo
que engessavam a juventude em terninhos sem gola, cabelos compridos, porém bem
penteados, que modelados pela música, embalavam-se no irrealismo de fadas e de
inocência daqueles anos.
A jovem guarda, ginasiana por excelência, curtia as poesias simples e românticas das notas musicais, entre namoricos bem comportados, nos portões da rua, onde a troca de beijinhos era uma permissividade consentida.
Tudo era “direitinho”, principalmente nos bailes de debutantes, quando as meninas faziam 15 anos.
Nos salões dos clubes, muito bem iluminado, as meninas-moças da classe média, desfilavam seus vestidos de branco entre miçangas e paetês, sem falar em cabelos armados e provavelmente penteados por “cabelereiros-arquitetos”.
Bailavam ao som da valsa de debutantes nos braços de seus pais, que gentilmente as cediam, sob o olhar complacente das avós, aos garots vestidos de um terninho bem caído ao corpo, gravata fina, colorida, enfeitando sua camisa branca, isso quando não era uma gravata borboleta.
No entanto, alienados aos problemas de seu País.
Os mais velhos, já universitários, vivendo nos centros urbanos, nas capitais tinham um comportamento mais arredio. Talvez, sentiam-se sufocados de não poderem se manifestar.
A classe universitária confrontava-se entre os ritmos das músicas importadas, roqueiras e a cadência colorida do tropicalismo e da bossa nova, que abriam espaço para um novo patamar à música brasileira. Ainda que sob a censura, cantarolavam nos botecos, ao som de fumaças de cigarro e o dedilhar dos violões as melodias que gritavam pela liberdade.
A música brasileira era o compasso da contradição e que de algum modo, nas entrelinhas, desafiavam os senhores coronéis e os criativos censores dessa época, que eram capazes de “ver” frases desafetas no próprio “Pai Nosso”.
Chico Buarque clamava “Pai, afasta de mim esse cálice...”, Gilberto Gil, girava a “Construção” e Caetano caetaneava entre as vozes marcantes de Maria Betânia e Elis Regina.
Essa juventude madura ainda era o resquício da liberdade de outrora. Anteriormente discutiam política nos centros acadêmicos, nas salas das Universidades, no meio às experiências de Química ou entre as equações indecifráveis da Matemática. Os de Direito eram os mais invasivos. Alguns representantes estudantis já estavam contaminados por ideias comunistas, outros sonhavam com novos tempos e outros buscavam as reformas políticas.
Enfim discutia-se política, discutia-se o Brasil.
Elis "Pimentinha" Regina e Jair Rodrigues |
Essa juventude madura ainda era o resquício da liberdade de outrora. Anteriormente discutiam política nos centros acadêmicos, nas salas das Universidades, no meio às experiências de Química ou entre as equações indecifráveis da Matemática. Os de Direito eram os mais invasivos. Alguns representantes estudantis já estavam contaminados por ideias comunistas, outros sonhavam com novos tempos e outros buscavam as reformas políticas.
Enfim discutia-se política, discutia-se o Brasil.
No entanto calaram a juventude, calaram a renovação da política brasileira, que até hoje convive com este maior pecado.
Os festivais da canção, nos auditórios da TV Record, criavam a arena das torcidas que deliciavam os neotelespectadores da telinha preta e branca, que dessa forma, podiam pelo menos extravasar suas opiniões.
O futebol encenava o maior país da Terra e nas taças das Copas do Mundo, o ópio da vitória entorpecia a população: “P’rá Frente Brasil, salve a Seleção”!
O futebol encenava o maior país da Terra e nas taças das Copas do Mundo, o ópio da vitória entorpecia a população: “P’rá Frente Brasil, salve a Seleção”!
Notícias? As mais sérias só a do Ibraim Sued, principal colunista social da imprensa tupiniquim e as receitas da cozinha brasileira. Estas figuravam como manchetes nas primeiras páginas dos principais jornais do Brasil, escondendo a vergonha da censura.
Condescendência da censura às reais notícias que aconteciam no País e no mundo. Eram proibidas de serem ventiladas ou comentadas.
A cuba-libre, misturava Coca-Cola com rum, inundavam os saraus dançantes e a musica continuava como que dando cores àqueles cenários dourados, como nos palácios franceses, em festas, antes da “Bastilha”.
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