Quem sou eu - Nasci em São Paulo, e adotei Curitiba desde criança, pois adoro esta cidade.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2016

O Milagre de Natal


Era uma vez, um menino! Sem sorriso, sem lágrimas, caminhando, cansado, faminto e triste.
Não sabia de seu passado e muito menos queria saber de um novo dia. 

O cansaço é maior e entrega-se à uma escada, larga, feita de mármore. Sentiu um pouco de frio, mas era bonita e imponente!

Parte do seu corpo ainda estava coberto com uma manta vermelha bordada com fios dourados... Também nem imaginava de onde tinha vindo.
Era uma loja luxuosa!  Tinha uma enorme porta, debaixo de uma
marquise, onde ficavam os enfeites natalinos com um porção 
de luzinhas coloridas.
O frio aumentou! Não há mais pessoas nas ruas...
Adormece num canto para proteger-se do vento da noite e 
das desesperanças!
Dorme ainda escutando a suavidade dos cantos de Natal 
e se deixa levar pelos sonhos, pois fazia muito tempo que não sonhava. 
Estava ali deitado, encolhido e surge um pequeno clarão, não assustador, mas levemente azulado, quando apareceu aquela figura de que ele não gostava, mas, naquele momento, estava lhe estendendo seus braços, carinhosamente, em sua direção: era o Papai Noel!
Ele foi se aproximando com um sorriso, não daquela forma que estava costumado a ver, mas um sorriso angelical, suave, brilhante, que lhe trazia uma paz e a tranquilidade que jamais havia sentido.

O menino quase parado, ficou aguardando.

Chegou até o garoto, deu-lhe boa noite, tomou-o nos braços e lhe disse que aquela noite seria muito diferente. Tão diferente que jamais esqueceria! Ele iria conhecer a verdadeira Noite de Natal e acordaria  com o Menino Jesus, talvez tão pobre quanto ele.
Adormeceu profundamente!
A noite vai passando... As estrelas e o encanto das luzes coloridas dão lugar ao brilho do sol. É dia!
O que era prata vira ouro!
O menino acorda meio assustado, escutando um vozerio que não sabe vir da onde.
- Lá debaixo? Pensa e gagueja sem entender o que está acontecendo.
Abre seus olhinhos, olha para todos os lados e uma surpresa:  se vê numa deitado numa caminha feita de capim, parecida com aquele “bercinho de palha” que ele havia visto num presépio de não sei aonde.
Ao seu lado, um bebê ou talvez um menino muito pequenininho. Ele não sabe se é real ou um boneco. Mas, um sorriso traz um brilho diferente em sua face.
Olha, novamente,  para  todos os lados e percebe que está no meio de um presépio, entre figuras de louça, grandes e maravilhosas. São belas como nunca tinha visto igual!
- Este presépio estava na parte de cima daquela marquise e que o menino não sabia de sua existência, pois na realidade nunca havia olhado para cima e jamais o havia reparado.
O garoto olha-se e se vê limpo, como se tivesse tomado banho naquele momento e também está vestido como uma roupa novinha, quentinha e igual àquelas que ele via nas vitrines daquelas grandes lojas.

Os raios de sol resplandeciam nos dourados da manta.
O brilho parece aumentar e o vozerio também.
O menino olha novamente à sua volta e nem acredita que ele está
em cima daquela marquise, lá no alto.
Lá de cima vê aquelas pessoas olhando para ele. Ele não sabe como subiu e nem como vai descer!
A quantidade de gente também aumentou! O vozerio também! E eles gesticulam e falam coisas que não dá para acreditar: uns falam do menino Jesus, do presépio e de um moleque que subiu ali que ninguém  sabe como;  outros, até acham que é um milagre; e outros, incrédulos, dizem de que se trata de uma propaganda, para chamar atenção daquela loja.
O gerente da loja, por ali apareceu, ficou assustado com a multidão e com o garoto lá em cima. Queria chamar a polícia. Por fim, resolveram chamar os bombeiros.
Um bombeiro chega, coloca uma grande escada e ao chegar ao menino, lhe pergunta como ele subiu.
O garoto balbucia. Suas faces limpas ficam rosadas e responde baixinho:
- O Papai Noel me trouxe até aqui...!
O bombeiro sorri como se entendesse daquele milagre, pega-o no colo e o traz para baixo.
Olha para os lados a procura, talvez, de uma pessoa que fosse responsável pelo menino,  afinal  ele estava bem vestido...
Um casal aproximou-se do garoto, afagou-o carinhosamente e disse ao soldado do fogo:
-  Pode deixar, nós vamos cuidar dele!
O bombeiro sentiu uma sensação estranha e teve a certeza de que o menino deveria ser entregue ao casal!
A mulher abraçou a criança:
- Vamos meu filho, esse é o seu Natal que jamais irá esquecer e ele será maravilhoso!
Saíram dali rindo e dando passos como se estivem dançando ao som de Noite Feliz!
Os olhos do menino brilhavam, seu coração palpitava de alegria. Olhou para trás, fitou o presépio, de onde tudo tinha começado e viu o Menino Jesus sorrindo um sorriso brilhante. Deu-lhe uma piscada!
Há meia quadra daquela escada de mármore, os três caminhando a felicidade do alvorecer de um novo dia, depararam com um velho gordo, vestido de vermelho, face rosada e rindo: - oh!...oh!...oh!... .
Era o Papai Noel que ele tinha visto no sonho. Sorriu-lhe e recebeu também o sorriso doce. Pela primeira vez chorou de alegria!
Papai Noel, afagou sua cabecinha e disse-lhe que aquela Noite de Natal foi diferente como diferente seriam todos os seus dias. Beijou a testa do menino e com um vozeirão bem forte gritou:
- Oh!...Oh!...Oh!...Um Feliz Natal para todos!

Eduardo Barrozo Prugner




segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

HOMENAGEM AO JORNALISTA VILLAS BOAS CORREA

Homenagem ao jornalista Villas Boas Corrêa
 Luiz Antônio Villas-Boas Corrêa, nascido
no bairro da Tijucas, no Rio, em  2 de dezembro de 1923, faleceu aos 93 anos, no dia 15 de dezembro de 2016. Formou-se em Direito pela Faculdade Nacional de Direito, da antiga Universidade do Brasil, em 1947 e era o mais antigo jornalista político do Brasil.
Viúvo deixa dois filhos, Marcos Sá Corrêa e Marcelo Sá Corrêa.
Iniciou suas atividades jornalísticas, sempre na área política, em 27 de outubro de 1948, no jornal A Notícia, também trabalhou no Diário de Notícias, jornal O Dia, Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo – onde passou 23 anos na sucursal do Rio de Janeiro.
Villas Boas foi também comentarista político da TV Bandeirantes e da extinta TV Manchete. Um comentarista de estilo elegante, sofisticado e profundo.
Ao longo de todos estes anos, ele acompanhou de perto os principais fatos políticos do país, como a transferência da capital para Brasília, o golpe de 1964, a ditadura militar, a anistia, as Diretas Já. Um analista privilegiado de momentos marcantes da história do país.
Aos 85 anos, o analista político se auto definiu como o “último sobrevivente da geração que cunhou o modelo de reportagem política”.
Quando de sua participação no II Encontro de Comunicação Social, defendeu a reformulação da “Hora do Brasil” com a adoção de critérios jornalísticos na elaboração de seu noticiário; e revisão do modelo que predomina em grande parte do país de subsídios à imprensa.
E, durante esta sua apresentação, Villas Boas, pode nos brindar com diversas reflexões sobre a transição do fim da ditadura e das perspectivas da Comunicação Social na Nova República.
Sobre o AI5 e a relação do jornalista com Governo:
Pois veio o AI-5. O bonde descarrilhou de uma vez, e dessa experiência eu retirei apenas uma regra de comportamento pessoal, não pretendo impor a ninguém: que repórter político não deve se meter com governo. Isto é uma norma absolutamente pessoal de conduta.

As perspectivas da Comunicação na Nova República:
A Nova República começou a se relacionar com a imprensa muito bem. Nas duas entrevistas exemplares que o presidente eleito Tancredo Neves concedeu à imprensa, resgatando um método de comunicação que havia sido prostituído ao longo desses vinte anos de arbítrio.
Esse começo foi muito bom, mas infelizmente, o acidente do presidente Tancredo Neves tirou o quadro da moldura. O nosso prezado confrade Antônio Brito teve a bondade de comunicar ao País, no meio de uma das muitas entrevistas coletivas que andou concedendo, que estava empenhado em estabelecer um novo estilo, um novo modelo de comunicação social com no País. Deixou apenas de entrever que esse modelo devia basear-se na credibilidade.

Sobre a doença de Tancredo Neves:
Mas é evidente que esta inacreditável novela da doença e da operação do presidente Tancredo Neves, parece fluir da imaginação de um novelista, de uma Janete Clair, que tenha sido incorporada por um “pai-de-santo” de porre! De repente de um Presidente da República que, no dia da posse é operado, que tem uma biografia de setenta e cinco anos de invejável saúde, e só agora se descobriu que ele, há trinta anos fez uma operação de hérnia, quando então aproveitaram e cortaram o apêndice. E quiseram cortar de novo, agora, o apêndice do Tancredo.

O fim  do novo estiolo de Comunicação Social na Nova República:
Este episódio, que é lamentável e grotesco, é risível e levou o estilo de comunicação da Nova República “pro buraco! Porque hoje a gente não consegue saber se aquela “mentirada”  que jorrou daqueles comunicados envolvendo o pobre do Antônio Brito, que teve a sua credibilidade pessoal profundamente arranhada, resultou apenas da insegurança daquela equipe de “veterinários” que operou Tancredo Neves e que, por pouco, por muito pouco, não o mata, ou se também pra isto contribuíram as inevitáveis pressões da família, dos políticos, dos interesses políticos. O fato é que, um governo novo, que se declara instalar-se sob a inspiração de um modelo novo, repetiu nesse incidente os cacoetes mais lamentáveis. Quer dizer, a credibilidade do governo, que é fundamental em qualquer projeto de comunicação social, saiu profundamente abalada deste episódio.

Perspectivas de um novo modelo de Comunicação Social:
Nós precisamos, a meu ver, começar a montar um modelo, um estilo de comunicação do governo com o povo. Um modelo que tenha as suas normas, as suas regras, e que venha a ganhar estabilidade. De maneira que ele não seja como hoje: o reflexo inevitável da personalidade, do temperamento dos chefes.
Em primeiro lugar o Governo precisa aprender que ele tem de entrar nesta corrida da comunicação em pé de igualdade com a empresa privada. Ele tem que produzir um bom produto, para que este produto seja aproveitado pela imprensa, pelos meios de comunicação. Já não é assim na imprensa escrita?

Sobre a Voz do Brasil:
O Governo todo o dia inunda a imprensa com aquele derrame de “releases”, de informações cujo destino normal é a cesta. Muito pouco se aproveita. E a televisão não está obrigada a transmitir um programa diário do governo. Por que só o rádio? Então, a consequência disto é aquela chatice de baixíssima qualidade, e que deve custar uma fortuna ao País. Eu sou um ouvinte habitual da “Voz do Brasil”, porque é irradiada na hora em que estou indo para casa. Eu sou obrigado a ouvir porque tenho uma certa curiosidade mórbida de ver até quanto aquilo pode ser ruim, com as informações oficiais, num texto indigente naquele modelo de literatura oficial. E,  o pior é o noticiário do Congresso, que é uma vergonha. É uma vergonha que o Congresso tenha uma equipe imensa de redatores, que custem uma fortuna ao País. Aquilo é um estábulo de jornalistas. Não há jornalista de Brasília que não coma nas baias do Congresso. E produz aquela porcaria, aquele texto cretino, com entrevistas que são débeis mentais.
Colocado num regime de concorrência, que não seja de divulgação compulsória, isso muda, porque, se não mudar ninguém transmite aquela porcaria.

E de maneira brilhante, Villas Boas, encerrou a sua participação no I Painel de Debates do II Encontro de Comunicação Social, onde desenvolveu o tema “Relacionamento Governo – Imprensa:
Eu sei que o modelo de cada comunicação estadual depende muito do governador. É o que sinto como repórter político. Quer dizer, se o governador não tem o que dizer, não sabe dizer as coisas, não tem capacidade de comunicar, não adianta escorá-lo com todas as muletas do mundo que ele não vai dar o seu recado. Mas, o assessor de imprensa não pode criar o governador, pelo menos não queira passar gato por lebre. Governador ruim é governador ruim. Não há imprensa que dê jeito nele. Um bom governador acaba aparecendo, até quando a imprensa não é tão ágil.

E assim finalizou:
A Nova República deverá nos permitir arejar um pouco este quadro. Até porque este modelo degradou ao longo destes vinte anos. Está tão podre, tão rejeitado, que está sendo vomitado pelo país. É inútil querer sustenta-lo por mais tempo. Devemos ter um pouco de imaginação, de criatividade, para começar a repensar, reexaminar tudo isto.
Não vale a pena ninguém, querer ficar, hoje, escorando o telhado que rui podre e já rui tarde!

Praticamente 30 dias após o II Encontro de Secretários de Comunicação*, Tancredo Neves veio a falecer – no dia 21 de abril de 1985. Assim, finalizou todos os sonhos de uma nova Comunicação Social no Brasil.

(*) O II Encontro de Secretários de Comunicação Social foi realizado na cidade de Foz do Iguaçu, com a presença dos Secretários de Comunicação Social do Brasil, nos dias 23 a 28 de março de 1985, contando com a participação dos principais jornalistas da imprensa nacional.


quinta-feira, 6 de outubro de 2016

A MUDANÇA

A notícia veio como uma bomba! Já tínhamos nos acostumado com aquele lugar. Tudo parecia ter-se encaixado como se ali haviam nascido. E agora aquele aviso, frio, indolente e o pior, nas entrelinhas o prazo era quase impossível de cumprir.
O contrato estava encerrado. 
A noite foi longa e olhos não conseguiam sequer fechar.
Enfim veio a manhã! Até o sol estava com preguiça, e ele foi se alongando vagarosamente, descobrindo-se das nuvens, para então irradiar o seu brilho.
Aos poucos fui caminhando por cada canto da casa, olhava, refletia, contava histórias de cada fato que ali teria acontecido. Cada lugar parecia guardar um conto, uma lembrança! É bem verdade que não fazia tanto tempo assim, mas já tinham raízes.  
Sem perder muitos minutos no café, fui à internet, buscar o consolo, ou melhor, um novo lugar, um novo ninho.
Sem perceber, não pude conter uma boa risada.
Outrora folheava os jornais para achar onde morar. Eram página por página, anúncio por anúncio, e muito deles tão pequenos que me valia de uma lupa.
Agora, bastava colocar algumas informações, a meu gosto, e pronto, um rosário de moradias, com fotos, medidas, valores, mapa de localização...Tudo isso num abrir e fechar dos olhos.
Assim, depois de alguns dias, já estava desenhando novos planos, imaginando aonde iriam os móveis, etc.
Sabia que não seria igual a que eu estava. Tudo havia mudado!
Veio o dia. Acordei antes do sol. Empacotando o que tinha que ser empacotado. O Caminhão chegou. Começou o corre-corre...
......................
Amanheceu. A chuva se fazia presente e batia suavemente na janela e deixava-se escorrer no peitoril. Aquele som era uma sinfonia que relaxava e não deixava sair da cama.
Mesmo com chuva fui percorrer algumas ruas em volta. Não havia muitas pessoas nas vias, mas a impressão de que não tinham face. Eram como autômatos andando de um lado para outro.
Afinal quem eram?
Pude perceber que ali não havia prédios, eram casas, alguns sobrados, que se misturavam entre comércio e residências. A maioria com pintura vencida, desbotada. Não pareciam bonitas e muito menos atraentes.

Talvez a chuva é que dava toda essa impressão.
Retornei logo para casa. Tranquei-me no quarto como se precisasse esconder-me.
Levei mais alguns dias para novamente, dar uma volta no bairro.
Já não chovia e confesso que as pinturas continuavam toscas.
- Mas que mau gosto!
Precisei de pão e fui a padaria. Fui bem recepcionada, a pessoa que me atendeu perguntou se era nova no bairro. Percebi que tinha uma face simpática, olhos negros, um nariz que se sobrepunha um sorriso.
Respondi monossilabicamente. O sorriso se fechou e a face simplesmente desapareceu. Fui rapidamente para casa!
Ao abrir o pacote do pão, um pão doce enfeitava os outros pães. Não havia  feito tal pedido. Vou devolvê-lo...
“Caiu a ficha”!
Pensei em voltar lá. Fiquei na dúvida...
Pela manhã, não me contive e fui às compras. Entrei na panificadora e fui até o rapaz que havia me atendido e lhe dei um “bom dia” sorridente. Sua face voltou a ter os traços simpáticos do dia anterior e o sorriso estampado respondeu-me ao meu cumprimento. De imediato agradeci o mimo que havia recebido.
                                                                                                                             Ao sair da padaria, achei que as casas haviam sido repintadas. Já não me pareciam mais rústicas. As pessoas me cumprimentavam e eu as respondia, ora com um sorriso ora com um aceno. 


Já não eram mais robôs, tinham rostos. Algumas até se dirigiam a mim para “puxar” conversa.
Descobri na simplicidade a grandeza daquele bairro. O comércio, bem servido, diferente de que até então estava acostumado.

Aos poucos fui mudando...

MEU NETO

Ter um neto como você
É imaginar, embalando uma vida,
Que também fui criança,
Mas, não tão bela quanto você.

É pensar que o tempo não para,
As horas se passam,
Mas vejo a eternidade
Do meu nome no seu.

Mas continuo te olhando,
Imaginando e sonhando,
Nos meus braços te embalando,
Para o teu mundo conquistar.

Ora, talvez egoísmo
Mas transmito nesse menino,
Doce, belo e gentil,
O sonho que era meu.

Mas você cresce,
Desde da aurora que nasceste,
Mas sinto o teu coração
Sorrindo nos sorrisos,
Vencendo com seus passos firmes,
Conquistando suas vitórias,
E, a cada dia dizendo venci.

Assim, no caminho da vida,
Orgulha-me porque te embalei,
Seguindo os seus caminhos,
Sem me ver,
Mas sempre eu te via,
Porque tinha no peito
A alegria de ser,
Todos os dias o seu avô.

E, hoje, no dia do seu aniversário (05.10.2016) assim escrevi: Ter um neto como você, é muito mais do que simplesmente transmitir um sobrenome, ou mesmo me sentir "cheio" por ser avô. Olho para você no passo a passo de sua vida. Por vezes escondo-me num canto para sofrermos juntos, ou expludo de alegria com suas vitórias, com suas conquistas e com seus próprios sorrisos. Ora, ser seu avô é sentir o coração palpitar, quando consigo vê-lo, ou simplesmente dizer alô ao telefone. Vinte e três anos que passaram, me levam a recordar do seu primeiro instante de vida, pouco mais das 8 horas (você nasceu às 7h50), um nenê lindo, ainda parecia com medo para vir ao mundo. Mundo este que você vence todos os dias. Que mais que um avô poderia desejar ao seu neto? Senão a FELICIDADE inundando seu coração, seu ser e transformando seus caminhos em iluminados e abençoados. Que Deus o abençoe. Eu o amo. E seja sempre muito feliz.

seus caminhos em iluminados e abençoados. Que Deus o abençoe. Eu o amo. E, seja sempre muito feliz.

sexta-feira, 12 de agosto de 2016

O MEU AVÔ - parte 2

As  lembranças foram fluindo e não poderia deixar de  registrar um dos mais belos momentos da minha juventude. Minha homenagem continua...

Meu avô gostava muito de escrever. Escrevia e muito. Ensaios que lhe ajudavam nos seus trabalhos jurídicos.

Era advogado, jornalista e político, tendo sido vereador e deputado federal. Sua paixão era a do jornalista. 

Eram as suas crônicas diárias, publicadas no jornal local, Diário da Tarde,  que o entusiasmava. Vibrava ao lê-las! E o fazia religiosamente após o almoço, com um charuto na sua pequena boca.

Nesse dia a dia, durante a leitura da edição vespertina do jornal, quase sempre acontecia uma cena cômica: 
Meu avô abria as páginas do jornal,  aproximava-as de seus olhos já vestidos com aquelas grossas lentes, compenetrava-se nas leituras das reportagens e do seu próprio artigo. Esquecia do seu “havana” e dava um "furo" nas notícias com o braseiro do seu charuto.

Minha avó, vendo o perigo eminente, complementava esta cena, chamando atenção do meu avô para tomar cuidado:
- Barrozo! As cinzas vão manchar o seu terno, isso se ainda não fizer um furo na calça!

Acontecia o vaticínio e as cinzas caiam-lhe sobre as roupas e sob os reclames da minha avó, espanava-as com o dorso das mãos fazendo com que os resíduos daquele charuto grisava o linho da sua fatiota. 

Numa pequena sala íntima da casa, composta de um grande rádio, de cadeira de balanço e de uma poltrona de couro, acontecia as notícias. Era o momento do respeito e do silêncio. Somente ao rádio dava-se o direito de "falar" sempre com um chiado característico das ondas médias, vindas diretamente do Rio de Janeiro - Rádio Nacional. 

Após o jantar, religiosamente, meu avô sentava na poltrona e minha avó, na cadeira de balanço. Suas mãos trançavam os fios de lã, cujo desenrolar do novelo acompanhava os suspenses da rádio-novela. Já meu avô, lia um livro e pacientemente aguardava as notícias pelo "Reporter Esso" cujo slogam era "O Primeiro a Dar as Últimas Notícias" e "Testemunha Ocular da História". 
O Reporter Esso dava as notícias do Brasil e do mundo e era o mais importante noticiário brasileiro, começava pontualmente às 20 horas. 

Assim ficavam o casal a escutar o rádio com suas informações e novelas. 

Nós brincávamos ao pé da escada que saia no canto da pequena saleta, que levava aos quartos do sótão.Não nos atrevíamos soltar uma só risada ou emitir um único som. 

Num dos dias, meu avô chegou em casa quieto e cabisbaixo. Fez alguns comentários e trancou-se no escritório. Jantou sem trocar uma única palavra e foi à sala íntima. Sentou-se na poltrona e aproximou-se do radio como quisesse abraçá-lo.
Minha avó fez sinal para que não se fizesse nenhum barulho e nos afastássemos daquele lugar.
.
O rádio emitia um chiado que abafava a voz grave do locutor do Repórter Esso.  Era a notícia do suicídio do Presidente da República, Getúlio Vargas.

Não entendia o significado daquele acontecimento, mas percebi lágrimas nos olhos do meu avô e o balançar de cabeça como que negasse aquela tragédia.

A casa se fez silêncio!

Ele levantou-se e foi ao escritório. Debruçou-se sobre a máquina de escrever que emitia um triste tilintar e o batido surdo dos dedos nervosos nas teclas transformava as letras frias num desabafo, que com certeza, no dia seguinte, iriam engrandecer as páginas do Diário da Tarde. 

O alegre e o triste me fez refletir sobre aquela figura que iria me influenciar por toda a minha vida. A simplicidade de pessoa e seus sentimentos puros traziam o exemplo do homem e do avô.

Era um grande jornalista e como tal, ferino nas letras. Aí daquele que lhe era adverso, virava seu algoz.

Contava um dos meus tios, que ele,  indicado a uma função pública, sentiu falta da presença, na sua posse, daquele que lhe era credor da indicação. Não teve dúvidas em excruciá-lo na sua coluna do dia seguinte.
Quase perdeu o cargo, não fossem os amigos e as trocas de desculpas que amenizaram o fato. 

Citava Ruy Barbosa, de quem era seu ardoroso fã. 

Meu avô nasceu no Rio de Janeiro, era o que hoje seria chamado de assessor de imprensa do Presidente da Companhia de Navegação Lloyd Brasileiro. Diziam que quando lhe era dado oportunidade ia até o Senado visitando o gabinete do Senador Ruy Barbosa.

Destacado nas lides políticas da república, sua personalidade é traçada como a de homem público e de jornalista combatente e impetuoso, porém, verdadeiro defensor dos fracos perante os poderosos.

Paranaguá lhe chama e é a própria paixão pelo jornalismo que aceita ser o editor do Diário do Comércio de Paranaguá. Fica longe do centro do poder federal mas mantém a convicção de seus princípios.

Como homem dado à política fazia  seus discursos dando o norte à liberdade da imprensa, à democracia e à distribuição equitativa da riqueza nacional.    

Manoel Ribas, interventor no Paraná, o trouxe a Curitiba como Chefe de Polícia. Havia-lhe sido um crítico veemente. Posteriormente se tornariam grandes amigos.

Quando caminhava nas ruas do centro de Curitiba, trocava de calçada para evitar encontrar-se de frente com um adversário político. No entanto, saudava seus amigos tirando o chapéu e acenando vigorosamente.
Por outro lado, o encontro com um partidário, era motivo de ruidosa saudação, que por certo, terminaria num cafezinho, comportamento tradicional na cidade. 

Mal dei por mim, já percorria o corredor lateral daquela casa que dava acesso à cozinha. A porta aberta, fui saudado carinhosamente pela minha avó, que logo me ofereceu um cafezinho, enquanto dava os últimos arremates na limpeza do pós almoço.

Logo ela indicou-me o caminho da sala e falou  baixinho:
- Vai ter com seu avô, ele vai ficar feliz com a sua visita. Está um pouco mais debilitado pela doença.

Entrei na sala, as janelas semifechadas deixavam o ambiente escurecido. Meu avô estava sentado na poltrona de couro, as pernas cobertas com um leve cobertor, rosto pendente a um cochilo, tiravam-lhe a feição do grande homem que era.

Sorrio-me com os olhos e falou-me carinhosamente:

- "Meu neto, senta aqui ao meu lado, pois temos muito a conversar! Você está iniciando a sua vida, passou no concurso do Banco, e este é o seu primeiro emprego. Meus parabéns. Você não imagina como estou orgulhoso de você e muito feliz. Sei que seus caminhos serão traçados da melhor forma possível".
E continuou, após uma pausa como se fosse para recobrar suas forças:

- "Agora vai poder comprar os remédios para mim. Eu os tomo muito. Falou-me do Instituto dos Bancários, o IAPB (que depois foi sucedido pelo INSS) que havia uma farmácia cujos medicamentos eram sempre vendidos abaixo dos preços do mercado".

Ora falava-me sobre o sistema bancário, ora dizia-me da política paranaense, dos seus tempos, do jornal e de seus escritos. Informava da dificuldade de escrevê-los.
Olhava-me e sorria o sorriso dos mestres.

Eu não tirava os meus olhos dos seus e como um discípulo abnegado, escutava a cada frase que ele pronunciava.
Enchia-me de orgulho!

Quando parava suas falas, meus pensamentos fugiam ao passado, as imagens iam se sobrepondo.

Estava diante daquele grande homem e que naquele instante acolhia um rapaz sonhador, que imaginava percorrer tantos caminhos, tantas aventuras!

Continuava a olhar aquele velhinho com ternura, respeito e admiração.

Havia caído a barreira do tempo!

Saí daquela casa leve, como que se pisasse em nuvens. Desci as escadas e deixei o navio de piratas para traz do pequeno portão.

Uma nova vida abria-se pela frente.
Comecei o meu trabalho. Pena que não deu tempo para comprar os remédios...
Dez dias depois, ele viria a falecer!
.
Ficaram minhas lembranças...