Quem sou eu - Nasci em São Paulo, e adotei Curitiba desde criança, pois adoro esta cidade.

quinta-feira, 30 de junho de 2016

A TEMPESTADE

Uma história de férias



A noite se despedia.
O sol se espreguiçava por trás da montanha, lançando seus raios amarelados para o céu que se azulava.
Assim mais uma vez, estava iniciando o espetáculo da aurora!

Os passarinhos se alvoroçavam entre as árvores, entoando melodias naturais ao acordar de um novo dia.
As árvores paralisadas, não mexiam uma só de suas folhas, para não sentir o arrepio do frio.  Perfiladas, pareciam soldados a querer proteger os verdes campos.
No entanto a brisa fria corria pelos gramados fazendo com que uma névoa delicadamente sobrevoasse os campos, que ainda adormeciam preguiçosamente.
Não demorou muito, o Sol, dominante, senhor de si, se fez presente, lançando seus raios dourados, que  trespassavam por entre galhos e folhagens, expulsando a bruma e deixando as cores do inverno sobressaírem-se.  
Podia-se sentir o aroma do café pairando no ar, misturado ao cheiro da madeira em brasa,  vinda das fumaças do fogão a lenha.
Um leve calor abrande o friozinho. É mais um dia típico do sertão brasileiro, com o gosto gostoso de férias.  

As Férias 
 Pedrinho foi até a janela, sonolento, pois acabara de acordar e ao ver aquele cenário, o sol, os campos que se espalhavam até o horizonte, deixou-se levar por mil pensamentos....
Era mais um dia de férias no sítio de seu avô, e tinha de aproveitá-lo da melhor forma possível.
No café, se cérebro maquinava e já desfiava suas pretensões.


- Mãeeeeeeee! Me dá o café logo, que quero ir jogar bola com o Zezinho, gritou eufórico o menino, complementando e depois vou até o riacho nadar um pouco.
Com certeza a mãe de Pedrinho não iria deixar as coisas correrem rápido demais. Primeiro quis lembrar-se de quem era o Zezinho, e depois faria uma porção de recomendações necessárias, como arrumar a cama e o quarto, escovar os dentes, etc. e finalizou:

-  Pera lá! No riacho não vai não, a água está fria e não quero você com dor de garganta.
-  E quem é mesmo o Zezinho, perguntou, distraidamente, a mãe.

Pedrinho, soltou aquela abafada bufada, que quase o fez perder suas diversões:
- Mãe, Zé é o filho do Bento, o caseiro e amigo do vô. Tô indo arrumar a cama e quarto...Depois vou...tomar cuidado!

O garoto tomou o café, e acabou se deliciando com um bolo de fubá. Quando deu por si, saiu apressado,  para o quarto, arrumou a cama, deu uma ajeitada no quarto, foi se arrumando, botando calção, chuteiras e “vapt-vupt”, já na porta,  saindo e desabalada carreira.
Se não fosse sua mãe, já estaria chutando a bola:

- Vá escovar os dentes e pentear seu cabelo. Não se esqueça de lavar o rosto. Foi dessa maneira, que o Pedrinho, viu que sua mãe estava atrasando as suas brincadeiras.
Pronto! E saiu numa pernada só!  

Assim foi passando as horas. Uma rápida parada para o almoço, engolindo tão ligeiro que se perguntássemos o que havia comido, com certeza não saberia responder.
Lá estava ele, de novo, jogando bola, correndo, subindo em árvores para pegar uma fruta. Essa delícia de comer uma mexerica na árvore, é muito mais gostoso.  E, ainda tinha tempo para correr atrás das galinhas. As gargalhadas ecoavam pelos campos e a alegria contaminava toda a paisagem do sítio.
Assim passou o dia, entre subidas de árvores, chupando mimosa, jogando bola e de vez em quando, indo até a cozinha para “roubar” uma fatia de bolo de fubá.

Uma leve brisa começou e convidou Pedrinho, já cansado pelas tantas atividades, a descansar embaixo de uma frondosa figueira.
Ficou olhando o  céu pintado de azul,  servia de fundo de palco para o balé  das aves, as vezes sozinhas, outras vezes em bandos que davam todo o ar da graça daquele momento.  
A brisa aumentou os sopros de vento fazendo movimentar as folhas das árvores. 
Pedrinho foi encostando a cabeça num tronco de uma raiz e deixou-se estirar sobre a relva. 

Olhava absorto para o azul celeste do céu, agora rabiscado por nichos brancos transformando-os nos mais imaginativos desenhos: ora pequenos carneiros, ora cavalos alados que saltitavam os maços de algodão branco.
O vento aumentava, mas o menino estava embalado na sua criatividade.
As nuvens já disputavam com o sol o espaço celestial, e se desenhavam em figuras maiores e mais agitadas. O branco foi dando lugar aos tons cinza.    




Não foi difícil construir um castelo de nuvens, com altas torres... e o garoto continuava dando asas ao imaginário: dragões viravam soldados, pipas, fadas, carros e carroças...! 



 Os raios de sol pintavam as nuvens brancas que contrastava com o anil, e dava contorno dourado as nuvens acinzentada.
O tempo estava mudando!  
Esse turbilhão espacial criava um cenário de cores imaginativas.  
Pedrinho estava mergulhado na sua inspiração e criava a esses movimentos, uma estória.
Vibrava! E, como um maestro, regia as suas concepções. 

Ele tomou das nuvens rosa, brancas e douradas e foi desenhando uma princesa.  Fantasiou delicadamente o seu rosto. Fez surgir-lhe sobre a cabeça uma coroa formada pelos raios de sol, cujos reflexos deram a existência de esvoaçantes cabelos dourados.
O vento aumentava e sua criação também e num repente foi quebrada pelo chamar de  sua mãe:

- Pedrinho! Pedrinho! Venha imediatamente para a casa. O céu está escurecendo e vamos ter um temporal! Corra!

O menino correu para casa, sob alguns pingos de chuva que já começavam a cair. Foi direto ao seu quarto. Deitou-se próximo à janela, numa grande e fofa almofada e novamente se entregou às suas criações e aventuras imaginárias. Fitava, admirado aquele céu escuro, tempestuoso.
As nuvens agora, mais agitadas, continuavam suas danças imaginativas naquele céu cinza e branco.
Pedrinho voltou à sua imaginação... e foi desenhando sua estória.

  Construindo uma estória de fadas

O céu escurecia cada vez mais e o castelo ia sumindo no movimento incessante das nuvens. Pedrinho sabia que a sua  princesa já havia entrado no castelo.
O menino desenhava nas nuvens cinzentas adornadas pelos raios dourados do sol, os Cavaleiros do Sol. Eram destemidos, armados de lanças e de escudos na cor do ouro, galopavam em cavalos brancos, rapidamente, em direção ao sol levantando uma poeira de chuvas que respingava na janela. 


Pedrinho se deliciava. A chuva aumentava e a tempestade formava nuvens escuras. Ouvia-se o ribombar de trovões. 

Pedrinho cria Os templários, cavaleiros que montavam em cavalos negros com olhos vermelhos e quando trotavam, as ferraduras de prata rasgavam as nuvens provocando explosões de relâmpagos e estrondos ensurdecedores.
Os Cavaleiros do Céu, montados nos seus cavalos brancos com grandes manchas cinzas  montavam guarda à porta do sol.
Os cavaleiros Templários, com seus negros cavalos avançam ferozmente contra os Cavaleiros do  Céu. 


As nuvens brancas, cinzentas e escuras se misturavam num movimento alucinante.
E, quase como um delírio, o menino continua a sua estória...

Ao se encontrarem, olham-se com ódio. Os seus cavalos eriçam seus pelos, bufam ferozmente e suas patas, com ferraduras de prata, rasgam as nuvens, iluminando o céu com rajadas de  relâmpagos.
Os destemidos cavaleiros desembainham as espadas e uma luta desembestada é iniciada.  A luta é mortal e as espadas cortam o céu.  As armaduras se chocam provocando raios que caem ao longe, rasgando o ar. 
Os cavaleiros do sol são mortalmente feridos com as espadas dos Templários e tombam nas negras nuvens desencantando em grossas gotas d’água que deságua sobre a terra, já molhada, numa chuva torrencial.  


Um raio corta o ceú, assustando Pedrinho.

Pedrinho adormece sob suas imaginações!
Talvez tenha dado às suas aventuras aos seus sonhos...

Mas, aí é outra história!